segunda-feira, 9 de novembro de 2009

serviços sexuais de jovens masculinos

Embora se distinga em diferentes aspectos dos serviços sexuais femininos, a prostituição masculina insere-se em semelhante arcabouço de preconceitos, tabus e pânicos morais. A questão se torna ainda mais virulenta quando se trata do envolvimento de jovens e adolescentes, situação esta agravada, do ponto de vista do imaginário social, quando esta se processa com pessoas do mesmo sexo.
Apesar, porém, de todas as diferenças existentes, ambas as formas de prestação de serviços sexuais mantêm eixos comunicantes, por serem secularmente tratadas sob a óptica do controle social, da segregação, do regulamentarismo, da intolerância e da repressão. Em ambos os casos, ações estatais, médicas, psiquiátricas, sanitárias e criminais embasam-se na ideologia da “defesa social” (SOARES DO BEM, A. 2006).
Em virtude da existência de um habitus cultural excludente e intolerante com relação à prostituição, são raros os estudos que se pautam por uma postura ideologicamente crítica. Embora o debate feminista elabore inúmeras críticas a muitas representações inscritas no imaginário social sobre a mulher, Guenter (1994, p. 24) salienta que quando se trata de tomar partido de mulheres enquanto prostitutas o movimento feminista entra em pane, divide-se e provoca inúmeros mecanismos de defesa. Com a prostituição masculina a situação parece se agravar em virtude da ausência de vozes politizadas capazes de ancorar demandas em plataformas consolidadas de cidadania, mas, acima de tudo, em virtude da quase absoluta ausência de pesquisas cientificamente orientadas.
Desde que há prostituição, salienta Strack (1996, p. 18), têm se desenvolvido modelos interpretativos sobre o seu surgimento. Normalmente tem se desenvolvido teorias monocausais e são poucos os trabalhos que procuram tratar a questão a partir da complexidade. É principalmente a partir do século XIX que a pesquisa tem se ocupado com a investigação científica da prostituição. Strack (1996) argumenta que grande parte desses trabalhos foi produzida por médicos e criminologistas e seus efeitos provocaram tanto discriminação e estigmatização, quanto pressões para atividades terapêuticas e normalizadoras. Segundo a autora, esses trabalhos foram marcados por modelos interpretativos biologistas, psicanalíticos, econômicos, teorias da convergência, por contraditórias interpretações no bojo de teorias feministas e em poucos casos por modelos interpretativos críticos. Várias foram também as estratégias políticas dinamizadas para tratar a prostituição, aí podendo ser citados o proibicionismo, o regulamentarismo e o abolicionismo. Inevitavelmente, ao nos vincular à pesquisa sobre a prostituição masculina, teremos que levar em conta esta herança e procurar entender de que modo ela atua sobre este campo específico.
A prostituição de adolescentes e jovens do sexo masculino reúne uma gama de elementos que permeia a relação michê /cliente. A interação que se estabelece entre quem oferece serviços sexuais e quem paga para obtê-los é das mais complexas e supostamente não se reduz a uma relação meramente mercantil. O profissional do sexo e o cliente estão inscritos numa rede social marcada por uma profusão de sentidos socialmente construídos e compartilhados. A prostituição masculina viril se inscreve, portanto, em um espaço que articula uma complexa rede de serviços, símbolos e significados e que a situam além da experiência fenomênica do próprio “programa.”
No senso comum, há um discurso sancionado na população ou em determinados segmentos da sociedade, que adolescentes e jovens são estimulados por fatores sociais e principalmente econômicos para o trabalho sexual. Assim, ao reduzi-los à condição de vítimas, contribui-se para destituí-los da condição de “agentes cognoscitivos” (Giddens, 2003), com competências para entender o mundo e justificar as próprias ações. Ressalte-se que temos um enorme desafio pela frente: tratar criticamente a questão, não nos furtando, no entanto, do entendimento circunstanciado dos limites teóricos e práticos da autonomia, levando-se em conta pressões simbólicas da sociedade global atuando sobre a subjetividade desses jovens e, principalmente de adolescentes, que se encontram em processo de individuação.