quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Novos lugares, velhos objetos.


O namoro no sofá do ferro de passar e do liquidificador

Os livros estão na geladeira do esquecimento
O forno está decorado
A gaveta guarda o telefone



No micro-onda fica o quadro

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cartas

Escrever é filtrar as emoções, expressar sentidos agora imprecisos  e se auto interpretar na realidade. Há vários motivos para pôr no papel ora o que se vive, mas quando se trata de uma carta, o significado parece ficar na sua condição artística. O fato é que uma carta é arte, seja ela qual for. Amadurece o que estamos sentido posto em palavras e  quem ler ficar na responsabilidade de entender a mensagem. O leitor que ao ler em papel uma carta e não parar para pensar naquelas palavras, pode-se dizer que é insensível. Afinal, ser leitor é ter compromissos com a mensagem. Já se conseguiu muitas coisas com cartas escritas a determinados leitores.
Tive experiências ao longo da vida, redigindo cartas e recebendo-as. Quer seja para pessoas distantes ou próximas. O prazer de ter em mãos um envelope e  ao abri-lo tem m papel não se tem comparação igual. Quando criança, escrevia para os programas de rádio na intensão de ouvir a minha carta e ganhar um presente, depois escrevia para os programas de televisão para ser sorteado também, coisas que nunca aconteceram. Sem falar nas cartas feitas nas aulas para o dia das mães e dos pais e até para papai Noel.
Ano passado, tive um desafio que mostrou o poder de escrever cartas. O meu irmão se internou numa fazenda para fazer um processo de desintoxicação e o contato nos três meses iniciais só poderia ser feito por meio de cartas. Nesse primeiro período de tratamento, escrevi para ele e o mesmo me respondia. Essa experiência foi significativa de ambas as partes. Ele me falou depois de um ano que as cartas foram importantes para ele se manter dentro do tratamento e o quanto eram motivaram a continuação dele dentro da fazenda.
Tenho um amigo que possui uma página na internet e o diferencial dele é colocar no domingo uma carta aberta para um amigo. É interessante abrir a página e vê-lo descrever as impressões que tem sobre a amizade especifica. Não conheço todos os que receberam a homenagem-carta, mas aguça a imaginação ao ler.
Outra recordação que me vem à memória é o livro: “Amores em tempos do Cólera” de Gabriel Garcia Marques. Para manter o amor entre os dois jovens que sofre com a oposição do pai, o rapaz e a moça trocam correspondências secretas.
Outra referência é um livro cujo o título não lembro mas que eram cartas de pessoas famosos: cientistas e intelectuais para suas esposas. Quem diria que Karl Marx, Albert Einstein e Charles Darwin escreveriam coisas de amor. Pois, o livro revela esse lado desconhecido dessas pessoas.
Escreve-se por algum motivo ou razão. Hoje o problema maior dos relacionamentos é a falta de entendimento entre os casais, a ausência de diálogo é notória, talvez se usassem poderiam diminuir as brigas e se chegar a um bom senso. Como dizia no início, escrever uma carta ou várias cartas pode ser maneira de demonstrar o sentimento para quem ler.  As cartas podem conter soluções que não sabemos encontrar nesses momentos de embates.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O silêncio





O silêncio está desaparecendo,  se evaporando de qualquer lugar da cidade. Em nenhum canto há um silêncio constante. Ao contrário, barulhos e zombarias ou agitação estão ganhando espaço no cotidiano de qualquer cidadão. Ruas cheias, carros velozes, transeuntes rápidos ou conglomerados estão se sufocando em raivosos ruídos. Até sozinhas nos espaços públicos, as pessoas dão um jeito de portarem o som. 
A modernidade tem feito isso disfarçadamente em nós. Lembrei de uma carta de chefe indígena que dizia: Não há lugar para o silêncio na cidade dos brancos. Somos barulhentos e quanto mais fizermos, mais exaltados seremos pelos amigos. 
O vazio que trazemos dentro de nós é preenchido a todo volume com sons. Já reparou que o silêncio das igrejas também está raro, cada vez mais é substituído por gritos, cânticos altíssimos e louvores fervorosos. Deus está surdo pensam os devotos, daí se grita histridente. Os automóveis estão equipados com potentes  paredões de som. Nas  aulas, a concentração é ameaçada pelos telefones constantemente, sem se esquecer os próprios barulhos e gritos coletivos dos alunos. Certa vez, numa classe, estava sendo aplicada uma prova, um o aluno ficou revoltado com o silêncio da turma. Gritou: gente!!! Vamos agitar isso aqui!
Tenho a impressão que nós brasileiros já carregamos um dispositivo de fazer barulho aos lugares que chegamos ou onde estamos. Mas, sei que não é verdade. Há vida está  mais veloz e furiosamente barulhenta. Nas casas, as famílias  tem poucos momentos de silêncio, se fala alto as pessoas mesmo quando estão próximas umas das outras.
Resultado da cultura do barulho disseminado entre nós e se naturalizou. A consequência está nos diagnósticos das doenças associadas à tensão e ao sistema nervoso. Nunca se vendeu tantos calmantes e remédios para se dormir. Agitados e barulhentos, perdemos a capacidade de dormir   com o silêncio. Não há uma cultura ou educação do silêncio na vida em sociedade e tão pouco, temos o silêncio como um valor voltado para a criatividade. Para quem acha a pratica do silêncio algo ruim ou chato, é bom lembrar isso: Sem silêncio não há desenvolvimento das idéias e criatividade. Qualquer artista em qualquer área sabe disso, qualquer estudioso vai querer um pouco de silêncio para pesquisa. Não acredito que uma pessoa possa aprender com barulho e nem posso crer que na composição de um artista não haja um espaço para o silêncio fluir. Portanto, é preciso ter o silêncio como um direito e defendê-lo na cultura.  De agora em diante, defenda o seu silêncio para ter uma vida mais saudável.