domingo, 27 de novembro de 2016

Duas mulheres

Pelas mãos, a mulher segura a criança que ainda não entende bem a cerimonia. As pessoas em volta dela, se abraçam. Um rapaz toca violino, flores são jogadas.. De cabeça baixa, ela chora contida. E o caixão vai sendo aos poucos coberto com areia. - Diga adeus ao seu pai, nunca mais vai ver ele. A viúva sempre foi severa, linda e ordeira na economia de palavra, séria e controlada com os sentimentos. Agora, chora e por isso, o menino observa tanto ela.
Depois do velório, trocou as roupas. Nos domingos, vestia preto quando saia de casa para ir bem cedinho a missa e em seguida passar no cemitério para rezar um pouco e deixar flores no tumulo do marido. E assim, o fez durante meses. Mas num domingo, quando chegou ao cemitério, teve uma surpresa misteriosa. Viu velas e flores no tumulo do marido. - O que é isso ? Perguntou ao zelador. O homem sem entender direito respondeu: Acho que alguém veio,  acendeu as velas e deixou as flores. A mulher pensou consigo mesma: Como pode ser. Ficou irritado com aquilo. Teve vontade de apagar as velas e jogar as flores fora do tumulo. Aquele tumulo era do marido dela, alguém deve ter feito isso por engano. Mas, cumpriu o ritual que fazia todo domingo, sabendo que era difícil guardar dentro do tumulo o falecido marido que ainda escorria na memoria e no mistério.
Durante a semana foi a casa da sogra. Perguntou se tinha ido ao cemitério visitar o tumulo do filho no domingo. A senhora respondeu que não. A mulher disse  o que ocorreu no domingo passado, e que não sabia quem tinha feito a visita ao túmulo e uma tormenta se fez ali na cova.
No domingo seguinte, novamente velas e flores. Desfez aquilo e arrumou do seu jeito as flores e velas que tinha. Rezou. Lembrou que não era tão apaixonada por ele, teve outros que lhe interessava, mas estava descobrindo o ciume dentro de si. Saiu perguntando aos zeladores se tinham visto antes quem esteve no tumulo. Ninguém lhe respondeu uma afirmativa. 
Outro domingo e prevendo o que poderia ver, resolveu ir mais cedo. Nas primeiras horas, foi direto ao cemitério. Havia poucas pessoas no cemitério nessa hora. E para sua surpresa, já estava por lá as velas e as flores. Aquilo fez ela quase perder a razão e gritar. respirou fundo e pensou: Pode está por aqui.  Perguntou ao zelador que esteve no tumulo do marido. O zelador disse que foi a mulher que acabava de sair no portão principal. Ela correu, quando chegou ao portão viu a mulher sair num carro. Percebeu que ela estava grávida. Então tentou ir aos sábados a tarde para ver qual o horário que a mulher ia ao tumulo do marido.
Um desses sábados, chegou ao cemitério e viu que havia além das flores e das velas, uma carta no túmulo. Silenciosamente abriu e leu a mensagem. A mulher misteriosa também sabia dela e explicava o motivo de nunca ter se revelado a viúva.
" Cara senhora, peço desculpa se levantei dúvida sobre seu marido depois de morto. Há muito tempo realizei uma promessa por ter quase morrido Ir a todos os velórios durante o dia e ficar zelando por aqueles que deixaram suas viúvas. Contemplo o rosto de cada falecido, vejo os familiares e acompanho a cerimônia fúnebre. Visitar túmulos dos recém falecidos. Faço isso anonimamente essa promessa. Assinado Maria das Mortes" Ela lentamente  amassou o bilhete, fez um leve sorriso de sárcasmo e nunca mais foi ao cemitério visitar o tumulo do marido e deixou de usar preto.

sábado, 26 de novembro de 2016

Como uma criança não gosta de Papai Noel

Mais um dia claro e quente  de verão no semiárido. A diferença é que a noite será de Natal. A temperatura é forte e o vento seco da manhã em nada tira a sensação térmica. as ervas estão queimadas pelo sol.
Ao meio-dia, o ar é sufocante. No céu, nem uma única nuvem. Todas as pessoas fugiram do calor para esconderijos. O gritou da vó para o menino quebra o calor : - Sam, entre para o cozinha ! Desde cedo, ele veio arrumado para o tal "dia de natal", Logo, no café da manhã foi entrando na casa da avó dizendo: - Cheguei...Abrindo os braços e mostrando a roupa. Depois, tratou de ir brincar, bisbilhotar tudo que havia pelo imenso quintal. Um  planeta a ser explorado e pouco importava as dificuldades da roupa nova ou o calor. Samuel ainda tirou a camisa suada. Mas a avó começa a ficar aflita toda vez que aparecia no alpendre e olhava ele longe. - Sam, venha tomar um copo de suco que você gosta! O menino parou um momento, levantou a cabeça. Largou o pedaço de pau e correu para cozinha. Beber rapidamente o copo e saiu. A avó tentou explicar: - Meu filho, hoje a noite todos estarão arrumados com roupa nova e você vai ficar com roupa velha. Sam ainda disse: - Deixa para lá. E correu para o quintal. O pai de Sam chegou e viu aquela situação, já passava um pouco das onze horas. Agora, o menino montava pedras, tijolos e restos de telhas. - Sam, meu filho. Vamos, comprar uns presentes. O menino olho para o de longe: - Vou não. O pai ainda insistiu e saiu, Meio-dia, a avó tentar convence-lo  dizendo: Sam, hoje a noite papai noel vai dá presente para todo mundo e para as crianças obedientes. Desse jeito você, não vai ganhar nada. Sam olha para a avó: Papai noel é filho de uma rapariga. Em seguida, desmanchou seu brinquedo feito de areia e entulho, cruzou os braços, fez uma cara de choro e entrou para dentro da cozinha e deitou no chão zangado.


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O filhinho de papai

O casarão com o sobrenome da família se destacava dos demais na rua antiga. A pintura da frente estava desgastada, era agradável vê-lo, onde vivia uma família. O filho era estudioso e comportado, teve uma juventude igual a qualquer rapaz. No futuro, ele poderia  ter um emprego público, quiça uma carreira brilhante.  A mãe, dona de casa e esposa presente em todos os momentos, agora era uma viúva e o chefe da casa estava falecido, Coube ao filho ser o responsável pela casa, ou seja, a entrada e saída do dinheiro...
Após o velório, julgava as despesas desnecessárias e foi fazendo cortes. Os exageros deveriam ser contidos. Com o tempo foram aparecendo as dívidas e eram tantas que quando tapava um buraco, outro aparecia. A economia estava ruim e por consequência, a sociedade .O pai era um viciado em apostas e  jogador de cartas, isso lhe fez contrair as dividas. Além de ter uma irresponsabilidade com gastos.
Agora, o filho  trabalhava dobrado e se esforçava para ter um dinheiro extra. Sentindo-se afogado com as tarefas e os compromissos parecia carregar a honra de "seu pai Sérgio." Nada lhe aliviava o peso, nem em sonhos que eram sempre intranquilos. A insonia lhe visitava em certas noites. Não tinha tempo para os amigos, namoros ou divertimentos, embora que sua mãe lhe incentivasse a isso, O único divertimento era ir a missa com mãe e voltar para casa de braços dados com ela. Quem sabe um dia, no futuro, tivesse uma vida melhor, pois era um filho do capitalismo.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Sangue do meu Sangue

Zé das panelas teve uma vida difícil para sobreviver quando criança. Mas, conseguiu com esforço ter trabalho e constituir uma família. Rígido com mulher e mais ainda com os filhos, sempre dizia:" Quem não quiser seguir minhas ordens nessa casa, a porta está aberta." Há tempos atrás, expulso de casa um filho por rebeldia e proibiu qualquer comentário sobre ele. Além do controle familiar, Zé das panelas foi conseguindo mais poder. Testou sua influência na população e se elegeu vereador na cidade.
Seu destino tornou-se altos e baixos, mas ele estava conseguindo ir longe. Quem sabe no futuro ser perfeito. Tinha apoio para isso. Sabia conversar e era uma estrategista de primeira, sem nunca ter lido Maquiavel. Os filhos eram encaminhados ao seu gosto e interesse. A esposa era obediente e recatada. 
Certa vez, Zé começou a sentir alguns sintomas...cansaço, inchaço da barriga e tontura. Justo naquele momento em que tudo ia bem, aparece uma doença para estragar a paz. Marcou consulta médica. Conversou com doutor e explicou o que estava acontecendo com ele. O doutro mandou fazer uns exames para depois do resultado dizer o veredicto final. Uma semana depois, novas consulta. O doutor leu o resultado. E pediu mais uma exame. Zé começou a ficar preocupado. Mas o doutor tratou de acalma-lo.
O ultimo exame na mão, Zé foi com ao médico acompanhado da fiel esposa. O doutro disse que se tratava de leucemia. Zé teria que procurar um doador de médula na família. Em casa, Os filhos foram fazer a doação para ver quem poderia ser compatível ao pai. Os resultados davam incompatibilidade. Enquanto o pai perdi peso e cabelos. Os parentes fizeram a doação de medula, E nada. O desespero apoderou de todos. O grande pai poderia morrer e o poder que acumulou esfarelar, pois os filhos eram indiferentes a herança. Na cidade, os moradores procuravam uma medula fora da família para cura-lo. 
Certa manhã, a casa grande ainda estava em silêncio. A mãe já tinha acordado e estava tomando café quando o filho mais velho apareceu e sentou perto, ela falou: "Só falta uma pessoa para fazer a doação da médula." O filho franziu a testa e disse: "Quem ?"  A mãe suspirou e respondeu:" Seu irmão que ele expulsou de casa na adolescência por ser homossexual. Perdi o contato, mas acredito que o cabeleireiro tem o numero do telefone. Será que seu pai aceita a médula dele ?
A esposa esperou o momento certo conversou com o marido debilitado pela leucemia que para não morrer cedeu os orgulhos e preconceito e permitiu reatar o contato com filho. A mãe explicou para ele toda situação e ao mesmo passava na memória as cenas de castigos e humilhações do pai para com filho. O filho esquecido atendeu ao pedido da mãe, veio até a terra natal e fez o exame de compatibilidade de médulas. Doou a médula, salvou o pai da morte, mas não teve o pedido de desculpas e o retorno a convívio familiar.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O Furinho

No domingo poderíamos ter um pouco de prazer para quem passava a semana somente com alimentação trivial. Nesses tempos de crise econômica, os cortes são feitos no pouco de divertimento que temos. A feira do mês, os pais chegavam com cada vez menos sacolas. No entanto, uma lata de leite Moça para fazer um pudim e servi-lo na tarde de domingo era o luxo da família e depois de aberta era disputada pelos 5 filhos que faziam sua limpeza a dedo.  Os filhos eram comuns a quaisquer outros...unidos e desunidos conforme a situação. O mais velho com 13 anos, Marcos tornava-se mal criado e o mais novo Francisco com 8 anos, sonso. Ainda havia Paulo com 9 que sonhava em ser cantor famoso e Rodrigo com 12 anos queria ser jogador de futebol. Flavio era o intermediário 10 anos, meigo e sempre pronto para ajudar a mãe. Seus olhos brilhavam ao verem a lata sair da sacola do supermercado. E o desejo só aumentava com o passar do tempo, queria antecipar-se ao sabor do leite Moça;
Certa vez não se conteve, ficou com insonia de saber que lata estava na geladeira. Aquilo lhe atormentava, o coração batia acelerado enquanto os demais familiares dormiam na casa. Não se conteve e silenciosamente foi até a geladeira, fez um furo minusculo e sugou um pouco do leito. Voltou para a cama, onde dormiu satisfeito.
No domingo, a mãe foi fazer o tradicional pudim de leite para aliviar a amargura da semana. Ao abrir percebeu o furo e a quantidade pequena de leite. Ainda assim, fez o pudim e reclamou aos filhos. O pai ficou enfurecido. Ninguém assumiu o furo. Criou um clima de perseguição entre os filhos sobre quem seria o responsável sobre o crime. Alguém teria que ser culpado por aqui.
No inicio do mês, os pais vieram das compras do supermercado. As sacolas cheias de mantimentos. Tiraram um por um. E por fim, saiu a lata de leite condensado. Os olhos de Flávio tentaram desfaçar o desejo de pecar. Mas, acredito que até alguns esqueceram do que houve e do clima chato que ficou na casa durante os dias.
A noite de sábado veio e a ansiedade nas horas que Flavio escondia como um segredo. Aos poucos a casa foi se enchendo de silêncio. O pai e a mãe foram dormir. Ele deitado na cama, tentava dormir. O coração parecia lhe falar : vá. fure a lata. Seja valente. E batia acelerado. Veio um calafrio e na escuridão, Flavio caminhou em direção a geladeira. Abriu um pouco. E Pegou a lata de leite furou e sugou o leite de olhos abertos o quanto pode.
De manhã, o pai e a mãe descobriram o ocorrido. O pai anunciou a todos: Alguém vai ter que assumir o furto do leite...ou todos levaram uma surra. Pânico Geral. A mãe tentou amenizar o situação, mas o decreto estava feito. O pai deu a sentença: Amanhã, quando voltar do trabalho de noite. Um de você terá que assumir que furou a lata ou todos sofreram.
Aos poucos os filhos foram de acusando entre si.
A segunda-feira nesse dia tinha um sentido, quando no horário tradicional, o pai veio. Trocou de roupa e retirou a chinela. Chamou os filhos e colocou lado a lado. Fui chamando um a um, Batia a chinela na palma da mão. O barulho causava pânico. Pouco a pouco, o choro chegou. Então. levantou a mão. E chorando disse: Pai, fui eu quem furei a lata esse tempo todo. O pai ficou paralisado com confissão de Rodrigo. Mas também Marcos também assumiu que fez o mesmo e Flávio olhando para os irmãos, disse que era autor do furto noturno igual aos irmãos. Disse da ansiedade que tinha em fazer e a dureza de passar a semana sem nenhum doce. Enfim, quase todos sugaram um pouco do leite Moça. Em uma época onde as dificuldades econômicas eram desafios para a sobrevivência como também para se conseguir um prazer mesmo proibido, somos provocados a sermos sorrateiros.

sábado, 19 de novembro de 2016

A Ceia de Natal

Anos atrás foi convidado a passar a noite de natal com a família de um amigo. Não conhecia ninguém na casa e passei a noite  independente dos demais. Fiquei observando as pessoas por ali do começo ao fim da ceia. Cheguei cedo e aos poucos foram vindo todos os familiares. No centro da sala, havia uma árvore iluminada e presentes em baixo, ao lado um presépio. Todos pareciam animados falando alto e rindo. As crianças corriam de um lugar para outro. Com o passar das horas, vi quem mais era importunado por todos. Ora com um petisco, ora para encher sua taça ou por saber se faltava algumas coisa. Trata-se do mais rico comerciante do bairro. Antes da ceia, o dono da casa, reuniu todos e pediu um minuto de silêncio. Falou algumas palavras e em seguida começou um Pai-Nosso e depois uma Ave-Maria. Todos rezaram com ele. A distribuição dos presentes criou grande expectativa entre as crianças. Num minuto, os papeis de presentes estavam no chão e os brinquedos a mostra.
A ceia tornou-se outro momento memorável,  Sentados pelos cantos da casa, os grupos de pessoas conversaram com os pratos nas mãos. Foi ai que percebi a presença de um homem perdido no meio dos convidados. Sentado na cadeira, ele alisava o braço da cadeira. Era alto, forte e de barba. Quando percebi a presença dele, observei que ninguém lhe ofereceu nada ou parava para conversar com ele. Isolado igual a mim naquela família durante a ceia de Natal. Os convidados já demonstravam que estava animados pelas taças de vinho. Se mostravam gentis entre si. Cantavam e dançavam.O homem sentado no sofá, coçou a manga da camisa, mostrando uma cicatriz de corte. A partir do gesto notei que conhecia ele, mas não lembrava. Puxei na memoria aquela marca. Olhei para ele fixamente e foi com o passar do tempo que veio a clareza: tratava-se de um inimigo de infância que tive e sofri muito nas mãos dele. Nenhum dos presentes saberia que visões terríveis tive ali e me povoaram a memória, das humilhações e vergonhas que vivi com aquele homem quando era uma criança. O homem de cicatriz era o papai Noel da festa.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Presente de Natal.

Depois da festa de natal, Maria Rita levou seu presente para passear. Tratava-se de uma boneca simples que ela tanto desejava ter como amiga imaginária. Foi até a praça e colocou a boneca num banco da praça, começou a conversar. Explicou como era a cidade e cada membro da família. Falou principalmente da mãe. Depois disse onde estudava. Maria Rita pegou flores e colocou no bolso do vestido da boneca. Noutro bolso colocou pedras. Resolveu brincar de esconde - esconde com amiga. Primeiro contou a 10 e saiu para procurar o a boneca. Achou e fez a maior felicidade. Em seguida, foi a vez dela. Deixou a boneca no banco e saiu para se esconder. Voltou e não encontrou mais sua boneca. Ficou ali procurando pelos cantos e nada de encontrar. O desespero tomou de conta dela. Sentou no banco e chorou baixo, balançando as pernas. 
Pouco tempo depois passa um homem e ver Maria Rita chorando e se aproxima. Pergunta por que motivo ela chora. Ela fala entre soluços que perdeu a boneca. O homem comovido com a garotinha resolveu procurar a boneca. Demoraram um tempo até  os dois se cansarem, mas a menina chorava. Então, ele combinou dela voltar para casa e no dia seguinte se encontrar, Na manhã seguinte, a menina estava lá, sentada no banco. Pouco tempo depois, o homem aparece. Traz um pequeno envelope com um bilhete escrito: Por favor, não se preocupe comigo. Fiz uma viagem pelo mundo. A menina ler o bilhete e se conforma. Um ano depois, está lá a menina na praça. O homem chega e lhe mostra outra boneca. Dentro dela havia uma pequena  mensagem: Veja como eu mudei e voltei.

Eleições e o ser social

O Brasil pode ser dividido em dois. Um que é abundante, rico e com todos os adjetivos que são comparados aos países desenvolvidos da Europa. Um Brasil de privilegiados e oposição a grande maioria que vive na miséria e na ausência do Estado. Somos a política pode ser o instrumento de diminuição dessas diferenças.
Há pouco passamos por mais um processo eleitoral, paro para pensar a importância da escolha de representantes políticos e candidatos que se tomarão as decisões que afetaram diretamente o cotidiano das pessoas. De fato, todos podem se candidata a qualquer cargo e os representantes nas últimas eleições tem sido um desastre em ter os políticos vigaristas. Mas, é preciso amadurecer ainda as lacunas históricas da frágil democracia brasileira. Os eleitos e que assumirão os cargos tem o direito a isso, exercerem seus mandatos. Porém, o recuo foi dado pela anulação e abstenção dentro da votação. Somos parte da sociedade, embora as instituições nos trate como se não fossemos. Deixarmos de participar da vida politica que é além do que simples voto e muito mais em influenciar nas decisões dos que estão no poder, torna-se necessário.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Livro da vida

Sempre tive predileções diversas, entre elas era ler livros. Morava numa casa, suficientemente boa para viver, as plantas já faziam parte da decoração, os desenhos e pinturas nas garrafas ficavam num quarto especial. Os livros eram espalhados pela casa. Nenhum lugar era despossuído deles. Certa vez, após um dia todo lecionando nas escolas, voltei para casa. Era o entardecer, desses que a beleza das cores se vem no céu. Entrei em casa e pela janela, via o espetáculo enquanto tomava um cafezinho e pensava solto. A rua acompanhava uma ladeira e a casa ficava na parte baixa. Reparei num homem vindo em direção a casa. Pouco tempo ele bate no portão, abro e  me cumprimenta e pede água. Era um homem ainda novo e se vestia com roupa social. Trazia uma mala preta de executivo e se logo dizendo que era um "troca de livros", pela voz e pronuncia percebi que era do Sul. O seu tipo físico poderia ser de homem do Norte. Convidei para sentar numa cadeira na área. 
O visitante me mostrou qual o interesse dele: levar um livro e deixar outro. Sugestivo para quem gosta de leitura. Porém, ele diria qual livro queria levar de mim. Como pode saber quais livros tenho em casa ? Nunca contei para ninguém, apenas emprestei alguns que vieram e outro que nunca voltarão. Pensei um pouco sobre a proposta. Foi então que o desconhecido quebrou o silêncio entre nós e disse: Sei que é um livro simples o que quero de você. Em compensação darei um livro especial de volta. Então falei: Qual o livro que você quer ? O homem de paletó e gravata falou: A bíblia que você possui em casa. Daí, indaguei:: Você é religioso ? E ele respondeu: Assim como você, não tenho religião e deus. Mas estou para cumprir um promessa de pegar as sagradas escrituras numa casa de incrédulo.
O visitante abriu a pasta e me mostrou o livro de capa dura. Não havia escrito o titulo e nem o autor. Sem pensar, fui ao quarto e peguei a bíblia velha que tinha, nem sei qual a editora. Parece que enfeitiçado por aquele escambo de livros, entreguei e recebi ao mesmo tempo o livro. Só quando o homem saiu e fechei o portão notei que era noite. Sentei e resolvi abrir o livro. A surpresa foi maior, as páginas estavam em branco. Não havia uma com nada. E o mistério seguiu a noite. Voltei a fazer as tarefas de casa, mas a ideia de ter um livro sem nada me intrigou. Fui dormir e a ideia do livro no outro quarto me dava insônia. Antes de amanhecer, me levantei e fui ver o livro branco.
Ao meio - dia quando voltava para casa, um velha com cajado e rosto cheio de rugas me parou e pediu umas moedas. Tirei algumas do bolso e estendi nas suas mãos. Num gesto rápido, ela devolveu e disse: Se o espaço é infinito, estamos em qualquer lugar. Se o tempo é também infinito, estamos em qualquer ponto do tempo. Essas palavras conseguiram traduzir o que deveria fazer com o livro em casa. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A mulher vestida de sol

"Apareceu um grande sinal no céu, uma mulher vestida de sol." ( livro das revelações)

"Desde que em alguma outra parte é que vivemos
 e aqui é só uma nossa experiência de sonho." ( João Guimarães Rosa, Ave Palavra )

Givanildo era menino quando teve o sonho que se repetiu infinitas vezes...Uma viagem sem controle de si, olhar no espelho do próprio desejo. Nem considerava oque viu um pesadelo, soube aceita-lo. Já adulto, sendo do exercito e de família evangélica ainda sonhava, seria o diabo tentando lhe desviar de deus. Agora, atormentado procurou pastores e contou do sonho, os pastores ungiram a cabeça, orientava antes de dormir, ler a bíblia e orar. Colocar o livro sagrado sobre o corpo ou debaixo do travesseiro para afastar o diabo.
A travessia entre crenças se dava no sonho, onde o coração borra as fronteiras sociais. Não poderiam acreditar naquilo que via em sonho, era Nossa Senhora, mãe de Jesus num sonho. Sua fé lhe permitia crer em milagres ou curas, menos na mãe de Jesus, Maria. Mas o sonho retornava e como algo cifrado a ser decodificado. Procurou psicólogos para enfim, se livrar do sonho que cicatrizava a noite.  Uma mulher de rosto angelical. Vestia um manto azul celeste Mãos abertas e olhava para baixo.  A mulher lhe pedia para construir no meio do sertão potiguar um castelo de doze torres. Não se conteve e entrou numa igreja e foi vendo imagem por imagem. Viu no altar da catedral, a imagem dos sonhos em tempo real.
Abandonou tudo, desfez do que tinha. E saiu para construir o que sonhava a vida inteira. No meio do sertão foi erguendo tijolo por tijolo as paredes e as torres. Afastado do exercito e das religiões, se ergueu o castelo de Nossa Senhora do Sol. A pedra inicial chegou da Espanha, trazida de um voo internacional, era de um Castelo medieval onde N. Senhora havia aparecido a uma menina. Na véspera de Natal foi ao aeroporto onde o taxista queria lhe falar do filho morto.Voltando a cidade de Sítio Novo, naquele lugar fora do tempo, começou a concretizar o sonho desordenado pôs a primeira pedra e orou: construiu um castelo na base de penitência e jejum.  Depois de pronto, no centro do castelo, GIvanildo ergue um altar e por fim coloca a imagem da Santa. Espera a noite vim com o sonho final.

domingo, 13 de novembro de 2016

Natal em Natal.

As luzes piscando na árvore de mirassol,   faziam seu olhar ver  os visitantes  que tiravam fotos por detalhes e enquadramentos. A decoração espalhada pela cidade lhe angustiava e  na sua cabeça,  era o período de muito cuidado, as pessoas ficavam raivosas e irritadas por qualquer motivo. Viu cenas de brigas e desentendimentos em qualquer lugar. As músicas saindo das lojas era outro motivo contraditório ao que se vivia na véspera de natal. Encostado no carro, tentava amenizar o calor com água, mas queria beber algo para se esquecer. Não aparecia nenhum passageiro.
Está livre ? perguntou o homem de cara séria e forte. Sim, estou - respondeu abrindo a porta do carro. Vamos ao aeroporto. Emendou sem demora e entrou logo no carro. O motorista puxou conversa: Está quente nesses dias. O homem ficou indiferente a ele olhando pela janela do carro. Só depois de um tempo falou : Sou militar e já atuei em lugares mais quente do que aqui. O senhor é pai  - Perguntou o motorista que ainda insistia em ter um dialogo com o passageiro. Sim. - respondeu com uma voz grossa o militar. Em seguida falou o motorista: E que hoje, vespera do nascimento do menino deus. Estou trabalhando para conseguir dinheiro para pagar o velório do meu filho. O militar suspirou frio e falou: Um dia a morte vem para quem estiver vivo. Sou evangélico e não ligo para isso. Estou salvo. Assim como o motorista tinha vontade de beber, tinha vontade de falar.
Fazia uma semana que o filho havia morrido e ele não conseguir conversar com ninguém. E é preciso conversar devagar, com calma. Mas as pessoas estão apressadas nas compras e no vai vem do fim de ano. Sentia que era preciso dizer como o filho morreu, o que disse antes de fechar os olhos. O seu enterro e a roupa que usava no sepultamento.... Mas era natal em Natal.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Sonho de Adão

Depois da ponte haviam homens iguais entre si, afinal chegávamos a zona Norte do paraíso. Eles possuíam a aparência singular dos trabalhadores que expunham suas costelas. Entre esses homens, havia o primeiro que acordava cedo e enquanto fazia o café, ouvia música e horóscopos no rádio. Morava com pássaros de estimação e plantas no quintal.  Para Trabalhar, ele atravessava a ponte todos os dias com os homens. No local de trabalho eram tratados como filhos do paraíso. No fim de semana, bebiam cervejas em churrasquinhos. Quando podia, visitava os pais no interior.

Certo domingo, após o almoço, Adão da Zona Norte deitou na rede e caiu num sono profundo." deus fez cair um sono pesado em Adão, e ele adormeceu.." E ele sonhou tanto naquela tarde, como se fosse um deus no alto do céu, de lá observava tudo e viu um professor e a vida dele sem ser visto. A cidade era pequena, ele tinha uma bicicleta.que levava- o ao trabalho, ao comércio, a feira da cidade. Morava numa casa de muro vermelho, nas horas de folga pintava garrafas. A noite, o professor foi dormir e ele pode ver o que dentro do sonho dele, O professor estava beijando ele. Aquilo o acordou de súbito de onde concluiu, somos o que sonhamos.


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sonho de Natal


Tantos anos ali na cidade e o cemitério se destacava de longe, entre os prédios. Qualquer morador saberia onde ficava a entrada com pórtico maçônico e crucifixo onde as pessoas colocavam pedras. Era fim de tarde, aos poucos a luz  estava diminuindo enquanto que o vento forte dava rajadas. Cássio atravessou a rua com passos firmes. Os dois pés juntos pararam no pórtico,  suspirou feito uma prece rápida e entrou. Sua primeira visão do local era os túmulos antigos, as cruzes barrocas e as estátuas de anjos envelhecidas. Caminhou lentamente na alameda de acácias. As fotografias, os nomes, das datas e as flores, agora lhe roubaram a atenção. Um gosto de morte estava na saliva.  Em volta, o silencio era gigantesco. Levantou a cabeça e olhou o céu, percebeu um azul escuro e tons amarelados. Se imaginou no futuro ali o seu funeral: dentro de um caixão sendo levado lentamente e as pessoas em volta. O coração acelerou e veio a voz ríspida: Fecharemos em breve. E o senhor com chaves a tira colo passou. De repente um gato preto passa veloz.  Sentiu um calafrio. Aquilo atiçou a curiosidade. Começou a procurar pelo gato e foi se misturando em meio aos túmulos. Olhou um tumulo de mármore: José Leite de Santana, estava escrito. Um negro, parecia alto na foto. Vulgo: Jararaca. Pensou consigo mesmo: será que amou muitas mulheres ? Acariciou, beijou...fez sexo. O aroma perdido fez ele levantar a vista. Reconhecia aquele cheiro entrando pelas narinas sem pedir licença e viu a árvore com o fruto vermelho vivo. Andou até a copa. Pegou o caju maduro e retirou. Mordeu com gosto e sua seiva escorria pela boca. Sentia o prazer sem explicação de olhos fechados quando alguém gritou : Ladrão de cemitério !!! Apontando para ele. O susto lhe arremessou a correr. Levou uma carreia que lhe fez parar noutro tumulo para respirar um pouco e ler o nome : Saldanha. Todos os coveiros estavam a sua procura...escapuliu pela noite que se iniciava...
Ainda na rede de dormir, o sono já não era tão pesado. O dia se anuncia de tal maneira sólido com o calor forte e intranquilo da brisa matinal. Que manhã bonita! E de fato, como seria bonita a vida nesse lugar se não houvesse as misérias sociais e afetivas. Terríveis e desesperadoras misérias das quais não haviam onde se esconder numa véspera de natal. Cássio se balançava na rede, ouvia os barulhos, ora distante e por vezes da cozinha. Meio fragmentado, recordava o sonho incompreensível. Será que jogo no bicho hoje ?

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Povo mediano

O "povo mediano" possui meios de não querer discutir as convicções religiosas ou politicas que sustentam suas existências. Justificam as ações  e a dos outros e explicam a realidade a partir de superficialidade sem irem a fundo, criticas ou uma ausência de questionamento maiores. Se fosse capaz de traçar um perfil poderiam ser: brancos, renda de dois a quatro salários, família pouco maior do que 4 componentes e religiosas. Questões como legalização do aborto, da maconha, a união civil do mesmo sexo e outros temas que persa maior analise  tem nesse grupo, grande parcela apoiadora de serem do "contra" aos mesmos. Não é uma questão de conhecimento, tem acesso a meios que podem provocam uma maior visão das questões, Estão bem representados no cenário politico, acreditam que a exploração capitalista é justa em sua meritocracia, até mesmo quando são vitimas dela. 
O comportamento social do povo mediano é irônico e indiferente, rejeitam a história da luta de classes e acreditam fielmente que um dia chegaram ao topo da pirâmide social, se não os seus filhos farão isso. Avessos ao pobres, embora pratiquem a caridade, ignóbeis as lutas sociais em direitos, esse grupo se iludem ao crerem que são acolhidos pela elite por frequentarem os mesmos lugares e assim impedem de um confronto direto entre a base da pirâmide e o topo.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

O incerto viver.

Ir se reorganizando a cada instante, procurar a criatividade como maneira de conduzir a cada momento. A incerteza do que será o amanhã: um caos em expansão que insiste em se alojar no rosto das pessoas, nos moveis e nos espaços. Conseguir controlar o destino é um desafio diante da vertigem de caminhar sobre o abismo social, a ânsia de  atravessar as horas e as ruas, atenção para os movimentos das pessoas. A qualquer instante tudo que é sólido pode aparecer algo inesperado e nos tirar do jogo peças e a própria regra que se estabeleceu.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

...é o fim do ano. Não precisa se desesperar...

Percebo ao se aproximar do final do ano um situação singular, quanto mais chegar o período de festas natalinas, mais  conflitos ficam visíveis no meio coletivo, as pessoas se tornam incompreensivas entre si e agressivas uma com a outra.  Se estivermos num supermercado ou no comércio, as cenas se amontoam : crianças chorando e pais indiferentes, clientes discutindo com vendedores e clientes brigando ou numa parada de ônibus...  Ontem, fui a um grande centro comercial, já sabia que iria encontrar situações que acabo de descrever. A primeira, uma mulher correr num corredor mandando chamar o segurança, as pessoas viam aqui como um cena teatral.  O segurança tranquilo ouvia a mulher de braços abertos e por vezes, colocar a mãos na cabeça...Parecia que tinha perdido o filho dentro do centro comercial. Na farmácia, um homem de meia idade reclamava da vez na fila querendo tirar  senhora. .. Os comerciais de tv e os outdoor não demonstram isso. Vendem as pessoas felizes comprando, se encontrando com outras e até ajudam o desconhecido.  É fim do ano, não precisa se desesperar.

As metas anuais.

Em 2016, de tudo o que ocorreu no plano nacional e local. Das adversidades e dos acasos...Enfim ,dos pros e dos contras, tentei traçar objetivos para serem realizados ao longo dele. E como está apenas faltando dois meses para o encerramento, posso dizer que tiver consegui realizar noventa porcento daqui que escrevi, logo no inicio.
Plantei as árvores, levantei o muro da casa, fiz uma viagem para um lugar que nunca tinha ido antes, coloquei um sistema de segurança, realizei um exposição com as garrafas, comecei a estudar francês sozinho...entre outros.
Para o próximo ano, comecei a selecionar e anotar algumas metas. Objetivos que façam de mim um ser humano melhor. São 4 ou 5 metas.

domingo, 6 de novembro de 2016

Ler mil livros e escrever um.


O habito de ler surgiu de forma variada. Quando era menino ia para a casa de vovó quase toda a noite, lá tinha uma estante na sala, cheia de livros, Isso me impressionava. As vezes, encontrava ela lendo. Havia uma coleção inteira de títulos de Jorge Amado.Outra ocasião que despertou o gosto pela leitura foi a primeira comunhão. Após a celebração o Padre deu um santo para cada um de nós e pediu que virássemos, atrás tinha 10 sugestões de João XXIII para viver a vida inteira...escolhi ler todo dia. Ainda teve o episodio da sorveteria, recordo de uma vez que sai com amigos, fomos a uma sorveteria que havia na cidade. Na mesa, alguns amigos comentaram sobre o livro: A insustentável leveza do ser ( Milan Kundera ), discutiram sobre os personagens e a trama. Como não conhecia o livro, senti-me excluído.  Depois pedi a um amigo para pegar esse livro na biblioteca. 
Escrever sempre foi copiar : do quadro negro, dos livros...Escrever o que sinto e o que penso demorou para ser algo. As agendas que comecei a receber de presente no final ajudaram a isso. Os rascunhos do que vivia. Fui diarista dos acontecimentos e sentimentos. 
Um dos hábitos que mais me transformou foi a leitura e outro a escrita. Ser um escritor na sociedade de pouco leitores é desafiante. Por outro lado, os poucos leitores se congregam numa secretamente, parece que nos reconhecemos de longe. Aquele livro ou autor abre um dialogo infinto. Quando vezes sai a rua e via o que as pessoas levavam nas mãos. Poucas com livros.