quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Uma arma dentro de casa


Nas últimas semanas, a notícia se repetiu exaustivamente e não me saiu da cabeça: A tragédia do menino em Goiânia. Por ser chamado de "fedido" pelos alunos da sala, ele pegou o revolver do pai, levou para a escola e atirou nos colegas. Só não matou mais porque quando estava recarregando o revolver foi rendido por um professor. Fatos semelhantes já aconteceram e irão se repetir no futuro, mas fica a pergunta: Será que não temos como evitar isso? Li várias reportagens sobre o ocorrido com comentários que especialistas e lembrei-me de outro semelhante que houve em Macaíba. Ha alguns anos atrás, duas adolescentes saíram da escola e foram a casa de um tio delas. Como não havia ninguém, a "sobrinha" resolveu mostrar o revolver a amiga, dai veio a fatalidade. A arma foi disparada acidentalmente e matou a amiga. A adolescente que disparou a arma nunca mais foi a mesma, teve depressão e saiu da escola. Sua família mudou-se para outra cidade. A família da adolescente que morreu também se desestruturou, o pai vendeu a casa, pediu demissão e se mudaram da cidade. O fato caiu no esquecimento dos outros igualmente como vemos uma filme e depois esquecemos na próxima semana, mas a cicatriz continua a marcar as inúmeras famílias vitimas de armas de fogo. Até hoje, ambas as famílias tentam reconstruir suas vidas distante da cidade e seguir seu rumo normal.
Mas, voltando ao caso recente, análise de todos os tipos de como isso acontece sempre aparece, umas para camuflar a situação anterior e outras para provocar um debate sem chegar a horizontes maiores.  Alguns questões ainda não foram esclarecidas devidamente e se forem, não mudaram o que já é realidade: o uso de armas de fogo e o porte delas para qualquer cidadão. Isso é um risco para a sociedade que tem uma historia sangrenta. Guardar a arma num lugar e as balas outro lugar não evitaria que alguém fosse a sua casa assaltar e desistisse. Ter um revolver no carro não vai constranger quem irá toma-lo de assalto. Existem valentões que acreditam no contrário.
O problema é bem mais complexo e amplo do que podemos imaginar. Temos que assumir a responsabilidade de mudarmos a ideia de que a dor dos outros é apenas deles. É nossa também, é uma questão de empatia. Estamos vivendo num período de soluções imediatistas e superficiais para problemas bem mais profundos historicamente, pois não queremos raciocinar de forma complexa sobre outros ângulos o tema da violência e o uso de armas de fogo, o que gera a "naturalização" da violência dentro do nosso cotidiano.
A sociedade brasileira se construiu com violência e ódio em cima de negros e índios, com brutalidade sobre os pobres e opressão a cidadania das classes inferiores. O Estado autoritário se instalou de maneira silenciosa no nosso dia a dia que  nem somos capazes de pensar em viver sem o mesmo usar do autoritarismo. As instituições religiosas estão lotadas de fieis que ouvem pregações iradas contra os outros do que sermões pacifistas. Não matar ou Ama-vos uns aos outros, foram apagados da fé. Os programas sensacionalistas que dominam os horários da televisão põe mais lenha na fogueira do uso da violência como solução a própria violência.
Certa vez, um policial me convenceu com argumentos simples porque não devemos ter armas em casa. Um policial tem o cotidiano cheio de momentos onde ele usa o revolver como ultimo recurso contra o bandido. Por sua vez quem faz assaltos e comete crimes também sabe manusear um revolver mais do que alguém que compra uma e espera um dia usá-la num certo dia.

Podemos desconstruir a tola ideia de ter uma arma em casa pode nos dar mais "segurança" e evitar mais acidentes, envolver mais as pessoas e instituições na campanha de desarmamento, uma educação pacífica entre crianças e jovens que estão mergulhados nos filmes e jogos eletrônicos violentos. As dores silenciosas e esquecidas dos que morrem por motivos banais devem se reverter em maneira de pensarmos coletivamente a nossa sociedade, o que queremos e como podemos mudar essas tragédias anunciadas sendo a favor ou contra a compra de armas pelo cidadão comum. Transformar a dor em experiência que sirvam de amadurecimento para uma sociedade sem arma e sem violência. Afinal, já perdemos muitos cidadãos para as mortes com armas de fogos e isso já é suficiente para a guerra armada que finge ser uma sociedade de ordem e progresso.