Quando criança, fui com meus pais, irmãos e irmãs visitar uma tia no hospital. Havia uma praça onde tinha vários brinquedos em frente ao hospital. Então, nós ficamos na praça. Outras crianças brincavam no parque e de vez enquanto, íamos a bar beber água. Quando meu pai chamou a todos para subirem no caminhão, pois íamos embora, aconteceu que nesse exato momento eu estava no bar bebendo água. Eles se foram e eu fiquei ali vendo o caminhão partir e chorando. Alguns rapazes se aproximar e conversaram comigo para mim acalmar. Depois, me perguntaram onde morava, o que tinha perto da minha casa. Saíram comigo na bicicleta pelas ruas. Nessa mesma hora, minha mãe percebeu que faltava um filho e foi avisado pelas minhas irmãs que eu tinha ficado na praça. Imediatamente voltaram para me buscarem. A essa altura, eu ia descobrindo as ruas do bairro onde morava, o mercado e escola perto da minha casa. Ao chegar em casa, fui recebido pela minha irmã mais velha. Pouco tempo depois, meus pais chegaram da praça. Levei um puxão de orelha e uma bronca de meu pai. A experiência de perda na minha vida está associada também ao abandono e a punição.
Hoje, me perco facilmente pelas ruas da cidade e seus sinais, pelos sentimentos que passam por dentro de mim. Me abandono em reconhecer cada pessoa e também por relembrar de suas histórias de vida. Sem destino feito filho sem irmãos e também sem poder fugir dos ciclos intermináveis de dias da semana, de meses e anos que se foram a décadas e que vieram com o futuro.
Só me encontro nas palavras de um livro, no abraço amoroso ou no sonho noturno.