A partir de um levantamento bibliográfico sobre a história da vida privada (VEYNE:1992) dos banhos públicos na Antiguidade, na cultura grego-romana, podemos construir uma certa genealogia do banheiro e dos seus usos na atualidade. Outras culturas tinham costumes similares nessa prática. O importante é perceber como a noção de espaço de limpeza corporal, neste caso os banhos públicos no passado, e o banheiro público masculino na atualidade, mantêm-se como elemento social de interação. No passado antigo, os banhos públicos faziam parte das inúmeras vantagens de se viver numa cidade, assim também como os espetáculos de arena, os circos e os teatros.
Devemos observar que os banhos públicos eram pagos com uma pequena quantia em dinheiro. Horas antes de sua abertura, um gongo tocava anunciando o início de seu uso. Desse anúncio formavam-se filas nas portas. A prática de ir aos banhos públicos não era feita por todos os habitantes. Os cristãos e pensadores se recusavam à ida para esses ambientes como prova de exercício da austeridade que se gabavam embora que houve admoestações dos filósofos acerca do uso correto:
“[...] Em Óstias, afrescos mostram filósofos, que se fazem chamar mestres na arte de viver, oferecendo aos clientes sentados severos conselhos gnomicosa sobre a maneira de defecar corretamente!” ( BROWN, 1995, p. 240)
Quando começaram a existir, esses estabelecimentos apresentavam modestas instalações. Com o desenvolvimento das cidades na Antiguidade acabaram sendo edifícios de banho bastante suntuosos. Cada cidade possuía um aqueduto para fornecer água das fontes às casas termais. Em alguns banhos públicos tinha-se latrina, mas isso não era uma constante nesses edifícios. Os nobres podiam possuir uma terma com várias salas arrumadas e decoradas com aquecimento em salas. Havia ambientes decorados e arrumados com afrescos e pinturas. Também os plebeus tinham condições de desfrutar de um banho público de luxo que era obra benfeitora das autoridades locais.
Outras instalações foram sendo agregadas aos banhos públicos, como ginásios e jardins. Se plebeus e nobres partilhavam do mesmo espaço, homens e mulheres ficavam isolados dentro dos banhos públicos. São datados pelos historiadores sete séculos de evolução dos banhos públicas. Como afirma Brown (1995, p.194):
Do edifício funcional ao palácio de sonhos, no qual esculturas, mosaicos, pinturas, arquiteturas suntuosas oferecem a todos o esplendor de um ambiente real.[...]o maior prazer era o de estar na multidão, gritar, encontrar pessoas, escutar conversas, saber de casos curiosos que seriam objetos de anedotas e exibir-se.
Poucas mudanças ocorrem nos séculos em relação às casas de banhos e o seu uso como locais de encontros coletivos. Porém, no século XVIII, as reformas higienistas e sanitárias nas cidades urbanas e industriais foram importantes para uma nova configuração desses espaços tanto no âmbito público como doméstico. Na casa, a sala de banho torna-se local de isolamento da pessoa dos demais membros da família e lá poderá se lavar e fazer sua higiene. Afirma Vincent ( 1995,p. 308 ):
O banheiro aparece entre a burguesia por volta de 1880: é o local mais secreto da casa onde a pessoa, liberta de seus corretivos ( cinta, espartilhos, peruca, dentadura, etc), finalmente pode-se ver, não em sua aparência social, mas totalmente despida. Momento às vezes penoso, hoje imposto a todas as classes sociais: ( O INSEE nos informa que em 1980, 80% das casas possuem uma sala de banho ou um banheiro com ducha. Talvez as pessoas usem o banheiro mais para se olhar do que para se lavar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário