sábado, 11 de fevereiro de 2012

O silêncio





O silêncio está desaparecendo,  se evaporando de qualquer lugar da cidade. Em nenhum canto há um silêncio constante. Ao contrário, barulhos e zombarias ou agitação estão ganhando espaço no cotidiano de qualquer cidadão. Ruas cheias, carros velozes, transeuntes rápidos ou conglomerados estão se sufocando em raivosos ruídos. Até sozinhas nos espaços públicos, as pessoas dão um jeito de portarem o som. 
A modernidade tem feito isso disfarçadamente em nós. Lembrei de uma carta de chefe indígena que dizia: Não há lugar para o silêncio na cidade dos brancos. Somos barulhentos e quanto mais fizermos, mais exaltados seremos pelos amigos. 
O vazio que trazemos dentro de nós é preenchido a todo volume com sons. Já reparou que o silêncio das igrejas também está raro, cada vez mais é substituído por gritos, cânticos altíssimos e louvores fervorosos. Deus está surdo pensam os devotos, daí se grita histridente. Os automóveis estão equipados com potentes  paredões de som. Nas  aulas, a concentração é ameaçada pelos telefones constantemente, sem se esquecer os próprios barulhos e gritos coletivos dos alunos. Certa vez, numa classe, estava sendo aplicada uma prova, um o aluno ficou revoltado com o silêncio da turma. Gritou: gente!!! Vamos agitar isso aqui!
Tenho a impressão que nós brasileiros já carregamos um dispositivo de fazer barulho aos lugares que chegamos ou onde estamos. Mas, sei que não é verdade. Há vida está  mais veloz e furiosamente barulhenta. Nas casas, as famílias  tem poucos momentos de silêncio, se fala alto as pessoas mesmo quando estão próximas umas das outras.
Resultado da cultura do barulho disseminado entre nós e se naturalizou. A consequência está nos diagnósticos das doenças associadas à tensão e ao sistema nervoso. Nunca se vendeu tantos calmantes e remédios para se dormir. Agitados e barulhentos, perdemos a capacidade de dormir   com o silêncio. Não há uma cultura ou educação do silêncio na vida em sociedade e tão pouco, temos o silêncio como um valor voltado para a criatividade. Para quem acha a pratica do silêncio algo ruim ou chato, é bom lembrar isso: Sem silêncio não há desenvolvimento das idéias e criatividade. Qualquer artista em qualquer área sabe disso, qualquer estudioso vai querer um pouco de silêncio para pesquisa. Não acredito que uma pessoa possa aprender com barulho e nem posso crer que na composição de um artista não haja um espaço para o silêncio fluir. Portanto, é preciso ter o silêncio como um direito e defendê-lo na cultura.  De agora em diante, defenda o seu silêncio para ter uma vida mais saudável.

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