sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O ser(tão) no sentido das pesquisas sociais

Ao escrever e se falar sobre a vida nos Sertões do Brasil, e em especial sobre o sertão do Nordeste, temos sempre um exposição do senso comum acerca do mesmo. Aqui,procuro expor aspectos são coletados em uma pesquina relizada há anos atrás. Os dados nessas exposições sobre o modo de vida dos rural nordestinos buscavam conjugar imagem e produção etnografica. Assim, foram construídas ao longo do tempo imagens às vezes deturpadas do homem e da mulher na cultura sertaneja para reforçar a idéia de atraso e preconceitos. No nosso processo de observação participante aguçamos a partir das práticas de pesquisa antropológica elementos que distorcem a idéia comum, conseguimos obter nuances que destoam com esses estereótipos e revela-nos uma nova interpretação mais plausível das expressoes masculinas e femininas existentes na cultura local.
O sertão Nordestino é um importante campo de pesquisa para a análise da categoria de gênero expresso na cultura. Conversando com os moradores, observando arrumação da casa, as atividades feitas nos trabalhos e outros aspectos de forma geral, podemos constatar que existe uma demarcação de utensílios, gestos e comportamentos pertencentes a esfera do genero, assim, procuramos desenvolver uma significativa análise dos mesmos no espaço rural por um mapeamento da sociabilidade dos mesmos.
Diversas teorias sociais são produzidas a partir das pesquisas sobre gênero. Algumas podem ser agrupadas de forma simples em três eixos: A divisão de gênero surge com gênese na ordem mitológica e imaginária da formação cultural, a separação dos gêneros aparece a partir da divisão sexual do trabalho, das estruturas reguladoras da economia e política e a noção de gênero oriunda da distinção anatômica dos sexos (SCOTT). São teorias que podem se desdobrar em complementação e também em contradições. Procuramos elaborar a nossa análise de gênero no sentido relacional e de agregação do ser humano na história da sociedade local, nesse caso a comunidade de Bom Sucesso ( Santa Cruz – RN) com seus detalhes específicos.
O escrever como resultado da pesquisa nos revelou outra dimensão. O redigir um texto esta mais voltado para uma comunicação acadêmica em congresso, eventos e publicação do que para o próprio universo da pesquisa. Dar um corpo textual tanto em imagem como em etnografia para a aquilo tudo que está sendo observado e captado é uma tarefa bastante complexa. Estamos conscientes de que o que escrevemos e fotografamos é uma interpretação.
A etnografia foi realizada no sentido denso. Geertz (1978) defendemos a idéia de uma etnografia que busque a particularidade ( procuravamos os universais), não aceitando uma explicação casual, tendo em vista a influência de Weber e Semiótico no estudo dos fenômenos sociais pelo próprio Geertz. O mesmo define três características importantes para a descrição etnográfica: a condição interpretativa, o fluxo do discurso social e a própria interpretação envolvida por extinguir-se e fixa-la (uma característica microscópica).
Na análise de início tomamos a observação sobre os núcleos familiares e as relações de parentescos. A composição das famílias são numerosas, a média de filhos varia de 4 para 7, chegando a ter casas com 10 filhos. As atividades manuais são passadas de uma geração a outra como forma de manter a herança recebida. Os trabalhos constituem importantes elementos de sociabildade na faixa etária e de gênero.Um individuo bem integrado na cultura local está em constante interação com os afazeres da roça. Os mais jovens aprendem com os parentes mais velhos a trabalhar e a se agruparem enquanto homem e mulher. Ao observarmos as atividades de lazer podemos ver que as mesmas são uma dimensão constituidora do sentido relacional do gênero.
Em suas relações sociais para a produção econômica, os moradores de Bom Sucesso revelavam o sentido e as relações entre homem e mulher bem como entre eles próprios ao designar o trabalho doméstico e diário. Podemos afirmar pela pesquisa feita a partir da etnografia e a captação de imagens fixas que as ocupações obedecem aos modelos não tão rígidos quanto poderíamos pensar. Dois casos relatados pelos moradores acerca de uma mulher que fazia o pastoreio do gado e de uma menina que criava pássaros ficaram explícitos.
A caça de animais silvestre e a criação de pássaros estão associadas a um processo de sociabilidade de meninos e adolescentes. È típico observá-los andando pelos quintais e estradas com suas gaiolas nas mãos como mostra a fotografia. Em suas conversas observamos o valor de ter capturado um determinado tipo de pássaro. A Captura e o abate deles por baladeira é um valor que pode estar ligado a ascensão de ser homem. Ficou difícil de registrar esse momento pois o horário em que ocorria era diferente do momento da pesquisa.
A maternidade é um elemento que agregamos a condição de ser mulher quer seja na condição familiar ou num amamentar porcos recém nascidos como mostra a fotografia. A senhora da foto relata que a porca deu cria a muitos filhos e por isso não é capaz de amamentar sozinha. Assim, ela prepara o leite que dá aos filhotes da porca. Nota-se que os animais de pequeno porte estão sobre o domínio das mulheres. A criação e o cuidado com alimentação e água de aves, porcos e até cabritos estão na responsabilidade das mulheres.

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