terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O menino sem deus



 
Paulo teve as noções de deus e da religião na infância. Aprendeu rápido, sendo dominado pela fantasia e imaginação que predomina nessa fase. As explicações mágicas sobre a origem das coisas, da vida e da morte fascinavam ele e ao mesmo tempo confirmava o inexplicavel. A existência de algo diferente de nós, a nos controlar, garantia a ele a ideia de que  nós temos principio e fim. No entanto, a medida  que ia crescendo e adquirindo mais informações, essa condição de que o que aprendeu seja verdade absoluta vai sendo esvaziadas pelo pai e mãe. Enquanto Paulo se tornava  rapaz, observou que seu pai e sua mãe tinham religiões diferentes.
Embora os simbolos religiosos sejam iguais para ambos, Paulo entendeu a diferença que havia entre o modo dos dois dialogarem com deus e maneira como a mãe via o divino. Pela parte do pai, via que sempre usava de comentários preconceituosos a forma que a mãe “rezava” e convivia com deus.
A mãe acordava cedo. Colocava um turbante na cabeça, nos dedos tinham aneis e o pescoço era coberto com colares de duas cores. Sai em busca de plantas e flores pelos canteiros que ela mesma cultivava no imenso quintal.  Voltava para casa e diante do altar  que ficava no quartinho, coloca-os e ia dizendo palavras que Paulo pouco compreendia.
Conversava carinhosamente com uma a uma das imagens como se fossem pessoas intimas. Quase todas as manhãs isso repetida, e sempre era povoado de magia na hora de preparar comidas. Lembravasse do vestido branco longo, porções de alimentos  colocados nos dias de festa ou quando “deus” lhe mandava uma graça. Deus tinha se tornado uma manifestação por parte de sua mãe principalmente quanto aos doces caseiros. Eles eram feitos para os Santos gêmeos, distribuidos as crianças. Como deus era próximo deles, livre e sem peso de nada.
Já o pai era diferente: tinha na carteira a imagem de deus. As vezes, usava uma cruz ou escapulário no pescoço. Ia a igreja. As vezes só ou mesmo acompanhado da mãe. Rezava a deus pelo seu time, acendia uma vela e juntava as mãos diante do oratório. Quando saia de casa, fazia sinais da cruz no corpo ou quando passava diante da uma igreja.
Paulo começou a perceber que existência dessa diferença formava outras tantas diferenças como um sistema em cascatas. Há distinção de hierarquias e preconceitos por se acreditar de determinada maneira nas divindades nunca iria se acabar na vida das pessoas e tinha um sentido para a sociedade. Quando  assistia na televisão os programas religiosos, não encontrava nada  do que se falava de deus e si em dinheiro e riqueza.
O primeiro abandono de Deus na infância foi quando reconheceu que  as pessoas estão prisioneiros das religiões. Depois vieram os questionamento s sobre deus e o amor. Se um quer dizer o outro, por que seu pai desdenhava da fé da sua mãe ? Qual a razão do pastor na televisão dizer que ele e o deus dele eram o certo ? Então descobriu: Sem fé, não haveria deus ou inferno. Nem possuiria o medo e poderia fazer tudo em liberdade. E cada descoberta, Paulo guardava em silêncio as revelações para se fazer um pessoa originalmente sem amém.


4 comentários:

Maria Clara disse...

Fantástico!

E ficou ainda melhor porque foi escrito por tii... Costinha S2

Maria Clara disse...

Um dia terá que ser admitido oficialmente que o que batizamos de realidade é uma ilusão até maior do que o mundo dos sonhos.

O banquete de Edson disse...

Você terminou com preguntas, respostas essas que espero que alguém no mundo me dê.

Unknown disse...

Pessoas fracas e que não conseguem lidar com seus problemas recorrem a fé, ela é um tipo de "pseudo-proteção", acho que é como se ela se fechasse em seu próprio "mundo divino" onde espera algum conforto.