Independente do inverno ou da estiagem, o sertão quer caçadores. João de deus era meio caçador e meio vaqueiro. Alto, já com certa idade, corpo fechado, falava e cuspia mostrando como fora as aventuras. Admirado nas redondezas pela arte de caçar com armadilhas ou pelo tiro. Se elogiava a habilidade de se posicionar e mirar. Atirava pouco e certeiro com as balas.
Desde menino era assim, conseguia acertar de longe o beija-flor e até no fim da madrugada, atingia os preás no árido breu. Quando saia para pescar mantinha a mesma habilidade em capturar os peixes astuciosamente. Por outro, as pessoas comentavam sobre o fato de não ser pai: pacto com o tinhoso em troca da pontaria.
Certa noite fria, João de deus e a mulher estavam no alpendre da casa com os vizinhos acocorados. Eles sempre iam ouvir as histórias de caças. Nessa ocasião, João de deus contava como pegou uma onça feroz iluminado pela lua. Quando de repente, tiveram a visita inesperada de Diana, uma cigana que andava com seu grupo pela região. Do portão do sítio, lhes pediu comida e água. A mulher foi logo buscar. Depois de saciar a fome, Diana retribuiu o prato de comida lendo a mão esquerda de João. Garantiu nas linhas tortas a vinda do filho. Tempo depois, a mulher confirmou a João de deus: que estava em grávida. Toda noite a barriga crescia um pouco até ficar redonda e pela forma era um menino.
O inverno veio. As chuvas encheram os açudes. Deixando verde a terra. Depois chegou a estiagem. Árvores tolhidas com folhas secas. Vento abafado. OS bezerros em orfandade. Enquando o menino se edificava na barriga. A mulher na espera do parto, resolveu fazer um borná branco como algodão. Queria que o filho seguisse o rumo do pai nas caças.
No dia do parto. Enquanto o menino nascia, a mulher falecia. João de deus mergulhou na tristeza funda. Cabeça baixa e olhar pensativo. Dizia que o filho era culpado por ter matado a esposa. João não tinha alegria de viver. Começou a beber sem controle. O filho ia crescendo assim, tristonho e calado.
Nas noites enluaradas, João de deus saia à caçar. Não eram os animais, mas o diabo. Se embriagava, colocava o chapéu e pegava a espingarda. Ouviam-se tiros e injurias de João ao longe. Gritos e murmúrios.
Numa noite de calor, percebeu um movimento incomum na catinga. Era o “cavalo do cão”. O barulho que o diabo faz à monta-lo. Mirou na escuridão o zumbido e apertou o gatilho. O tirou fez fisca da espingarda com uma claridade ofuscante. Tudo se iluminou da espingarda ao bicho atingido. Ao ver o corpo estendido no chão percebeu o infortúnio. Acabara de acerta o filho que estava com o borná branco. A imagem do filho agonizando devorou todo o pensamento de João de deus. Daquela noite em diante, o pobre homem trocou de vez o dia pela noite. Foi viver numa caverna, onde passava enclausurado e a noite saia para caça animais ou o diabo.
Um comentário:
Gosteiii do Final, Costinha
Beijos!!
"A SUA ALUNA DO 6 ANO, YSNARA"
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