domingo, 4 de dezembro de 2016

O desempregado e as palavras

Quando era jovem, os comentários ao vê-lo era de que ele teria uma carreira brilhante.  O tempo passou e veio a exigência de ter uma ocupação produtiva. Ser adulto: ter emprego. Estar desempregado é deixar de ser adulto, voltar a ser invisível ou ser um exemplo de fracasso. Num período de um ano, teve oito empregos iguais: ficar sentado e fazendo anotações ou preenchendo formulários e esperar para ser demitido. Os trabalhos foram conseguidos por influência do pai. que admirava aqueles homens "bem sucedidos" e das oito vezes que foi demitido, o pai lembrava do avô, rico com a venda de gado, do tio que construiu um império no comércio, do outro tio mais novo que se tornou um grande militar e assim por diante recordava dos homens que obtiveram tudo com o trabalho. Pensava consigo mesmo: " Trabalho para ser explorado, no final do mês recebe um salário e acredita que isso é justo."
O seu desemprego era por razões fora do controle dele. Algo que vem de cima da cadeia social. Já a riqueza é algo inverso, fruto da exploração da mão de obra que termina na ponta da sociedade. Mas, havia a pesada moral que sustentava a cabeça de todos. Não reclame da crise, trabalhe. Como não era apegado a ideias comuns a qualquer cidadão, guardava a felicidade de estar desempregado sem culpa.
Dai, lhe veio a inspiração ao acordar um dia. Escrever para os outros e principalmente para aqueles que não sabem "desenhar letra" e também por preguiça não escrevem. Arrumou uma mesa e duas cadeiras, colocou na praça embaixo de uma árvore, ao lado uma placa: Escrevemos cartas, mensagens e bilhetes.  O Valor de cada estava numa tabela. Assim foi aparecendo os fregueses e suas histórias. Certa vez, uma mulher sentou na cadeira e pediu para ele escrever. A mulher de traços simples e vestido floral, diz para ele - Escreve assim, Jesus. Você foi a pior coisa que aconteceu na minha vida...E continuou a história.

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