sábado, 3 de dezembro de 2016

O menino, o rio e o Chico

O transcorrer da vida pode ser semelhante a rio. Da nascente ao desaguar no mar, nos metaforizamos em riachos, córregos ou rios. Somos águas correntes que se cruzam, afluem de uns para outros. Às vezes, somos águas perenes, caudalosas e ainda serenas ao longo da existência. Guardamos segredos submersos que somente mergulhadores descobrem ao atingir o fundo do que somos. Por outras razões, fazemos boiar objetos ou pedaços de coisas que flutuam tranquilos ao longo do leito.
Movemos moinho que geram energia, Irrigamos lugares áridos que brotam esperança. A  vida é  um rio com pescadores em canoas jogando a rede, crianças se banhando, mulheres lavando roupas e vaqueiros levando o gado para beber água. Deixemos as pessoas em formas de rios transcorrem ao longo da vida, seguirem os cursos naturais. A maior alegria de um rio é deságua no mar e de um ser humano também. Onde eu nasci passa um rio, na primeira infância, em Apodi, as águas da lagoa me fez Índio. Depois menino feito, fui para o segundo nome do rio Mossoró. Era rio e era cidade, e essa atravessava a cidade. Nas férias escolares, fui levado por meu pai para conhecer os parentes em Petrolina - Pe. Porém, o velho Chico foi maior pela beleza. Banha-se nas naquelas águas me engrandeceu mais ainda.
Ao longo da vida uma pessoa pode tentar ter uma habilidade para se destacar das demais. Todos acreditam nisso de forma convicta, sem duvidar...Quando alguém consegue ser habilidoso em duas, isso é um elogio. Mas em tudo que faz? Isso impressiona.
Como ser múltiplo e manter a qualidade na pluralidade, sendo artística? Chico Buarque de Holanda consegue com discrição atingir cada aspecto da arte em particular e transformá-la em obra rara. Comecei a ouvir Chico Buarque na época da abertura politica. Meu irmão mais velho trazia os discos e colocava para a gente de casa ouvir. As letras da músicas eram uma alfabetização para o social. 
Um toque de Midas e ver como ele escreve, faz arte literária. Li Estorvo, depois Leite Derramado e Irmão Alemão...Como ele compõe, alcança a qualidade impar. Se for teatro, produz peças mestiças com maestria. Até nos pequenos atos e palavras, Chico rouba a cena. O Artista é assim mesmo: um rio transcorrendo  no seu leito que é revelar novas fórmulas para receitas antigas. No leito do Chico, moinhos de Holanda...
Assim o rio e o artista se fizeram em mim. 


Nenhum comentário: