Para Uedson
Saiu do expediente e vestindo a farda da empresa Sr. José estava no meio da fila do hipermercado. E Estar ali lhe cansava, os fregueses na frente da fila. Pensava comigo : Como são lentos. Os caixas sem simpatia em atender as pessoas com as compras, dizendo secamente: cartão ou dinheiro? Os fregueses sem o menor interesse a não ser comprar, comprar e comprar. As músicas de Natal tocando sem parar. Todos em fila num corredor de pequenos produtos desarrumados lhe evocavam a ideia de viver no caos. Escutou o anúncio de promoção e em tamanho maior o burburinho que se faz com a chegada do final do ano. Ficou com a ligeira impressão de que o mundo diminuiu e ficará lotado. Isso o fez sentir certa tontura e o que o tornar mais impaciente em filas. Se tivesse trazido um livro, poderia ler e no entanto se consolava, sabia que o sacríficio valeria apena ao lembrar que levava a árvore de natal tão desejada. Tinha planejado a semana inteira isso e agora está a passos de realizá-lo.
Não via a hora de chegar a sua vez e depois em casa montá-la com cuidado como quem veste a filha. Apesar do calor que fazia na cidade, apesar dos atrapelos na vida ´diária, apesar de incompreensão dos outros... Ficava pensativo no período natalino. Nada de neve ou roupas especiais como nos filmes ou na sessão da tarde. A cidade crescerá nos últimos anos, já possuía um ar moderno, prédios enfeitavam os céus e grandes avenidas que surgiram nos últimos anos movimentadas. As pessoas pareciam viver numa imensa caverna com suas atitudes nada civilizadas e principalmente a classe média. Os cidadãos eram desumanas e individualistas, clamava: meu deus! onde vamos parar. Moveu a vista dos caixas e observou as crianças nessa hora. Animadas carregando objetos, nos carrinhos de compras sendo levadas pelos pais e simplesmente chorando e resmungando. Sua infância foi divertida, no natal, o pai lhe trazia um presente e a mãe na cozinha preparando a ceia e dos irmãos brincando na calçada lhe vinha na memória.
Alguém atrás empurrou o carrinho que o fez voltar a realidade. Disse num tom de ordem: sua fezzz !!! Saiu meio bobo, ia ser atendido. O caixa olhou para o produto e passou no leitor ótico. Disse o preço e em seguida perguntou: no cartão ou dinheiro? Sr. José mostrou a nota enrolada e soltou um suspiro e depois sorriu, o que não foi correspondido. Viu o crachá e leu: Uedson. O caixa olhou para o nome na farda: José. Empacotou rapidamente dentro da sacola a caixa. Próximooo !!!
Quando as portas se abriram para sair do hipermercado, o vento cálido da cidade lhe abraçou com força e a poeira o fez cerrar um pouco os olhos. Voltou a relidade sem neve ou agasalho. Respirou e agarrou a sacola como se fosse um segredo. Lembrou que tinha pressa, precisava chegar em casa e na sala montar a árvore. Foi por trajeto tranquilo longe dos carros e das pessoas. Sabia de uma rua mal iluminada e com árvores que levaria até a casa, onde poderia caminhar sozinho sem pensar tanto, sem querer avaliar o ano que ainda não terminou. Somente ele com a árvore a tira-colo.
Chegando em casa, ele fez tudo quanto tinha se planejado. Sr. José sempre foi organizado e prefeccionista com as suas coisas. Sentou-se sobre o tapete da sala e ao som de Rita Lee, abriu a caixa e peça por peça, montou a árvore depois colocou os enfeites. Apagou a luz da sala e deixou as luz es iluminar o ambiente. Ficou com satisfação deitado no chão, fechou os olhos e fez um pedido. Era quase-natal quando percebeu a porta da sala se abrir lentamente e vê que recebia a visita, não de papai Noel mas da amada.