terça-feira, 30 de novembro de 2010

A árvore de Natal

 
 Para Uedson



Saiu do expediente e  vestindo a farda da empresa Sr. José estava no meio da fila do hipermercado. E Estar ali lhe cansava, os fregueses na  frente da fila. Pensava comigo : Como são lentos. Os caixas sem simpatia em atender as pessoas com as compras, dizendo secamente: cartão ou dinheiro? Os fregueses sem o menor interesse a não ser comprar, comprar e comprar. As músicas de Natal tocando sem parar. Todos em fila num corredor de pequenos produtos desarrumados  lhe evocavam a ideia de viver no caos. Escutou o anúncio de promoção e  em tamanho maior o burburinho que se faz com a chegada do final do ano. Ficou com a ligeira impressão de que o mundo diminuiu e ficará lotado. Isso  o fez sentir certa tontura e o que o tornar mais impaciente em filas. Se tivesse trazido um livro, poderia ler  e  no entanto se consolava, sabia que o sacríficio valeria apena ao lembrar que levava a árvore de natal tão desejada. Tinha planejado  a semana inteira isso e agora está a passos de realizá-lo.
Não via a hora de chegar a sua vez e depois em casa  montá-la com cuidado como quem veste a filha. Apesar do calor que fazia na cidade, apesar dos atrapelos na vida ´diária, apesar de incompreensão dos outros... Ficava pensativo no período natalino. Nada de neve ou roupas especiais como nos filmes ou na sessão da tarde. A cidade crescerá nos últimos anos, já possuía um ar moderno, prédios enfeitavam os céus e grandes avenidas  que surgiram nos últimos anos movimentadas. As pessoas pareciam viver numa imensa caverna com suas atitudes nada civilizadas e principalmente a classe média.  Os cidadãos eram desumanas e individualistas, clamava: meu deus! onde vamos parar. Moveu a vista dos caixas e observou as crianças nessa hora. Animadas carregando objetos, nos carrinhos de compras sendo levadas pelos pais e simplesmente chorando e resmungando. Sua infância foi divertida, no natal, o  pai lhe trazia um presente e a mãe  na cozinha preparando a ceia  e dos irmãos brincando na calçada lhe vinha na memória.
Alguém  atrás empurrou o carrinho que o fez voltar a realidade. Disse num tom de ordem: sua fezzz !!! Saiu meio bobo, ia ser atendido. O caixa olhou para o produto e passou no leitor ótico. Disse  o preço e em seguida perguntou: no cartão ou dinheiro? Sr. José mostrou a nota enrolada e soltou um suspiro e depois sorriu, o que não foi correspondido. Viu o crachá e leu: Uedson. O  caixa olhou para o nome na farda: José. Empacotou rapidamente dentro da sacola a caixa. Próximooo !!! 
Quando as portas se abriram para sair do hipermercado, o vento cálido da cidade lhe abraçou com força e a poeira o fez cerrar um pouco os olhos. Voltou a relidade sem neve ou agasalho. Respirou e agarrou a sacola como se fosse um segredo. Lembrou que tinha pressa, precisava chegar em casa e  na sala montar a árvore. Foi por trajeto tranquilo longe dos carros e das pessoas. Sabia de uma rua mal iluminada e com árvores que levaria até  a casa,  onde poderia caminhar sozinho sem pensar tanto, sem querer avaliar o ano que ainda não terminou. Somente ele com a árvore a tira-colo.
Chegando em  casa, ele fez tudo quanto tinha se planejado. Sr. José sempre foi organizado e prefeccionista com as suas coisas. Sentou-se sobre o tapete da sala e ao som de Rita Lee, abriu a caixa e peça por peça, montou a árvore depois colocou os enfeites. Apagou a luz da sala e deixou as luz es iluminar o ambiente. Ficou com satisfação deitado no chão, fechou os olhos e fez um pedido. Era quase-natal quando percebeu a porta da sala se abrir lentamente e vê que recebia a visita, não de papai Noel mas da amada.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sábado e Noite









Para Edson

...She always had the feeling that it was very, very dangerous to live even one day
(Virgínia Woolf, Mrs. Dalloway )


Motos correndo pelas avenidas quase atropelam os pedestres  nas ruas. Após o sinal ficar verde,  buzinas e arrancadas de automovéis garantem mais velocidade na vida moderna enquanto se ver  no retrovisor o neon das lojas. Hoje é sábado e são  as horas infinitas. Repetia o mantra: " todo mundo espera algo de um sábado a noite."  Ninguém poderia detê-lo.  Quando chegasse em sua casa, enfim ligaria para quem quer que fosse e marcaria um programa.


Já em casa fez um barulho com a moto na área. Foi recebido por sua mãe que abriu uma sorriso e a porta da sala com agulha e a peça de crochet.  As pressas,  saiu de cima da moto,  foi tirando o capacete e para não cair os óculos. Enquando ela lhe falava assuntos rotineiros e ao mesmo tempo já estava na cozinha preparando o jantar. ele entrou no quarto e  planejou o que fazer para a noite, jamais diria "num sei...". Queria deixar o instinto rápido e nocivo lhe levar pelos caminhos dos noturnos. O verão nunca sai da cidade e sempre deixa as pessoas tão friviolas com o que fazer nas noites. A cidade não era tão ingrata como se dizia nas rodas de amigos.


Sabia-se da peça de teatro em cartaz, dos shows de música, a exposição e os bares. Ah, os bares !!!! Todos repletos de gente. Sentar numa mesa e ver o vai-vem de cada um. poder ser um programa.  Talvez,  visitar um amigo e depois esticar para a boate. Beber e falar alto, dançar na pista com luzes lhe aplaudindo e ir jogando conversa fora  até cair na gargalhada. Pulsar com o sangue já etílico.


Comeu algo que a mãe lhe tinha posto na mesa.  Depois foi direto ao banho ouvindo uma música. Ainda de toalha, senta-se na cama. Observa rápido o quarto como se estivesse procurando algo, perdido ou novo naquele lugar. Ainda sobravam as horas. Quem sabe ver uma parte do filme. Os seus olhos se fixaram na estante dos livros desarrumados e empoeirados, um título lhe chama a atenção e que há tempos prometia a si mesmo que iria ler: Ulisses ( james joyce ). Vestiu-se com uma roupa simples. Dentro do quarto, trancou-se. Desligou o telefone. Deitou-se na cama em silêncio e pegou o livro  leu...Bloomsday.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O prazer do urso





" Você me conhece? " (  máscarados no carnaval )




O ano nem bem começou e a temperatura aumentava e aumentava.  Meninos, quase rapazes, formam o bloco para o carnaval. Qualquer bairro que se preze tem um, dois ou mais blocos de ursos. Magrelos sem camisas, calções surrados e tocando latas velhas, eles se transformam em  batuqueiros. Não há uma única letra de música onde se possa cantar, apenas o toque : tum, tum, tum...O som ecoa pelas cantos da rua e no coração dos que as ouvem  anunciando o que está vindo...Todo o dia  no sol árido, tendo a frente um rapazola urso e lá se vão eles. Para alguns será o último ano da folia, no próximo ano quem sabe estarão "grandes" para isso.
Não existe que esteja disposto aos excessos e descobertas num carnaval, mesmo que seja um adolescente mascarado de urso.
As crianças gostam, saem de casa e acompanham a trupe. Os adultos também sente inveja e  comentam a brincadeira. Qualquer comércio de esquina é visitado em busca de moedas: padarias, oficinas, bares, lojas e mercearias... dividem as somas do arrecadado  ao final do dia, ali mesmo. O urso recebe o pouco dinheiro e guarda num saco que fica amarrado na cintura.
De vez enquando, alguém do grupo aponta para a pessoa que passa e canta: ei, você ai !! Me dá um dinheiro aí!!! Os moradores mau humorados fecham as portas, param e cantam: Daqui não saio, daqui ninguém me tira...Então, soltam cachorro para cima do urso. Todos correm em disparada para mais adiante voltarem a se reunir e a bater lata. As mulheres falam que não dão dinheiro para moleques desocupados, ajudam à igreja. Os senhores comentam que não iriam sustentar folia de vagabundos. Os mais afoitos falam alto: " Há uma  jaula!!!" Os desaforos não os desanimam.
Baleado é um desses, meio menino - rapaz, ficou com a função de ir vestido de urso. Alto e magro como um pássaro do sertão, recebeu o apelido pelo jeito desengonçado de andar com as pernas. No começo ao se reunirem disseram que ele ia ser o urso.  Talvez por saberem que no próximo ano não terão ele. Rejeitou a proposta... os demais insistiram em dizer que era porque ele não leva jeito em bater na lata e nem tinha ritmo. Baleado tentou se encontrar  no  tumtumtum  desencontrado do ritmo e se foi.
Sempre a frente, como chefe e fantasiado até se olhava com  atenção de quem observa a cena. Outro dia, passando na casa onde moravam uma idosa que vendia picolés, doces e dindins. A  neta adolescente é quem sai  da casa e em seguinda a avó. Todos sabem que a menina tem um tabuleiro  e ao meio-dia vai oferecer cocadas pelas ruas. Resolveram pedir umas moedinhas para  o urso. Os meninos estavam banhados de suor, mas a menina nem reparou  no bloco, não via mais ninguém, somente o urso com a respiração ofegante.  Ela já o tinha notado antes neles, mas por ai.: uma vez na padaria ou na construção. Ficaram um de frente para o outro.
O urso baleado fez um pedido: queria água para beber. A neta lhe trouxe  uma jarra gelada e servida na bandeja. Baleado levantou um pouco a máscara deixando a boca a amostra pára  ebebe a água em goles homeopático. Vai levantando o copo e o queixo somente amostrar o pomo de Adão. Sobra um pouco no copo e joga no chão.
A vendedora de cocada  vê os lábios e os dentes verdadeiro. Pergunta: Quem é você, o urso ? Ninguém ouviu. O barulho calou a  voz que saia a oferecer o quitute. Somente baleado parecia ter ouvido e quando ia responder, alguns meninos com latas feito tambores disseram, vamos embora rapaz...
A moça das cocadas com uma jarra de água e copo na mão transportou ele pela rua afora. Um dos tocadores de tambor  inisistindo: Vamos!!! Ainda teve tempo de se virar para trás e rever no portão da casa a vovó e a adolescente se distanciando. Outro desejo crescíria além do dinheiro, além do carnaval...
Assim, à procura de um rosto  que possam se completar com  os lábios, lhe veio a busca e o prazer de um  beijo. Chegou o carnaval e sairam ambos em busca um do outro, mas não encontrou., nem  o urso com os amigos desapareceram das ruas ou a adolescente vendedora de cocada de coco. Feito segredo para ambos e  ao mesmo tempo um desafio, baleado e moça se foram pelas festas carnavalescas e matinê e...nada. Cada  um cumprindo o destino de se desencontrar nas horas sem fins. 
Na quarta-feira, antes de ir para a missa das cinzas com a avó, buscou com um olhar silencioso aqueles lábios nos rapazes da esquina.O destino tinha  aberto um abismo entre o urso e a menina. Virão outras festas: páscoa, junina e natal... inda não será dessa vez que o principio do amor torne-os amantes de verdade, que eles não se esqueceram nem com o tempo o que permanceu na memória com  um simples gole de água e a história dos seus carnavais.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Menina e a Estátua

 

 " Um beijo seria uma borboleta afogada em mármore" ( Cecília Meireles )


Nas primeiras horas de sol que marcavam a manhã, a estátua  percebia as pessoas como formigas  em direção as tarefas costumeiras. Cada cidadão andava de maneira que evitava um esbarrar no outro. Suspirou com desdem a rotina. que começa. A menina que sempre passava na praça la vinha,  usava a farda escolar e carregava caderno com livros sobre os peitos. Caminhando cabisbaixa, lentamente levanta a cabeça. Percebe algo de diferente na árvore secular.  Devagar se aproxima do tronco com as cascas como nunca tinha observado. Pára. Fica contemplando os galhos. Em seguida, sai as pressas de volta pela rua que veio.

Os transeuntes veem a cena, procurando um sentido para tal desatino da menina, observam a copa da árvore. Comentando entre si sobre algo, apontam para os galhos. A pobre estátua não ouve  as conversas. Mais  e mais pessoas vão parando e ficam admirados e numa devoção envolta da árvore. O dia por si só já está fora da rotina, não seria de ordem como nunca foi igual. O sol quente também aquece as ideias daquelas pessoas que só crescem a cada instante, até se perder quantos são ao todo. A estátua sente-se desprestigiada com a cena. Queria gritar: olha eu aqui!!! e nenhum observa a mesma. Inveja, talvez? Ninguém se quer lhe dirige um olhar ou apontam para a direção dela.

Homens e mulheres que iam trabalhar vão chegar atrasados por causa da súbita descoberta. As carolas da igreja mais próxima se aproximam, observam com o terço na mão e começam a  fazer orações. Rezam e dizem que é um milagre da virgem Maria. A líder comenta, estava escrito no livro sagrado: da rama nasceu a flor e da flor nasceu Maria...Não demorou e veio a polícia nos carros, fazem um cordão de isolamento.Ninguém toca mais na árvore. Pouco depois chegam os fotógrafos querendo o melhor ângulo para o galho branco como neve e com um broto. Um repórter entrevista as pessoas, cada um com a sua versão sobre o caso. Alguém no meio da multidão anuncia: é o fim do mundo!!! Um sinal da natureza para a humanidade!! Outro afirma que a natureza está desequilibrada. Vendedores faturam alto vendo produtos aos que ali estão.

De longe, a estátua observa a menina que acabou de chegar, não parecia ser a mesma. O olhar dela era diferente e o corpo parecia tomado por uma outra forma. Ela está acompanhada da mãe. Num instante de mistério, o olhar dela se direciona para a estátua. Fixa-se por um bom momento no corpo da estátua e vai até o rosto. Parece ser um olhar eivado de um desejo incomum.

Chega a praça um grupo de cientistas. As pessoas abrem caminho, eles se aproximam da árvore. Colhem o material e ali mesmo fazem testes e exames e depois anunciam que é um fenomemo natural daquele tipo de árvore. Algo raro, mas cientificamente comprovado. O anúncio faz todos se calarem e aos poucos irem deixando o local. Horas depois a praça volta ao normal e comum. No alto, a estátua tenta relembrar tudo novamente e principalmente a menina que foi a única a mirá-la.

Quando chegou madrugada, o vento frio ronda entre folhas e sacolas a estátua. Vê  um vulto se apróximar da praça, receia que alguém iria pichá-la com desprezo novamente. Era menina vestida com uma camisola que realçava o corpo de mulher. Ela para diante da estátua, levanta a cabeça e olha com se tivesse vendo a árvore. Depois sobe a estátua  cuidadosamente com todo o corpo quente, o frio bronze esculpido. Na altura da cabeça, ela para e olha fixamente e por fim beija a boca da estátua como ninguém ouso fazer isso.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A árvore do sonho ( Segunda Parte )







 Os sonhos que se repetem tem lá as razões para  isso.  Se os fazem, com certeza é para se tornarem  puros e seguir um ciclo. Esse processo foi suficiente para acordá-la, não só como acordamos quando temos pesadelos, mas como tomamos a realidade de outra forma. De noite, a menina sonhou novamente com a árvore. Num galho, viu uma sacola parecida com um fruto. O vento movia como se fosse um convite.  Suando assustada  não chamou pela mãe. Resolve guarda o mistério e persegui-lo de dia. Aquilo lhe faz mergulhar num profundo silêncio com os poucos amigos e andar pela rua procurando a árvore amada. O pai e mãe contaram para os parentes o que estava ocorrendo com a filha, a brusca mudança do jeito dela ser, várias sugestões aparecem e não tardou as vozes das superstições para espantar agouro do sonho. Seria as danações do bicho de chifres que devoravam o coração daquela menina que se preparava para ser moça ou sinal divino, na escritura: da rama nasce a flor e da flor a mulher. Predestinação da menina para ser santa.
A menina já não quer ir ao quintal embora sabendo que a árvore dos seus sonhos estaria em qualquer outro lugar. Prefere  a distante dos bichos e as  tardes encantadas se tornaram ressentimento, teve medo ao ver a escuridão da noite chegar, sabia que deveria dormir. Pensou naquele universo particular que viria mora dentro dela e instalar no corpo desprazeres. Inpagável veio o sono. E sem evitar, a continuação do indesejável. Dormiu e sonhou com a árvore e o galho revestido de branco neve, desta vez do galho escorre um liquido.  
Sufocada, ela acordou e deitada buscou se  tranquilizar. Lembrou dos ensinamentos religiosos e rezou ao anjo da guarda para que a luz do dia chegasse depressa. No café a mãe pergunta: Sonho de novo com a árvore? Ela com o olhar triste e silenciosa balança a cabeça confirmando. A mãe diz: Hoje quando voltar da escola, você vai ao médico e a rezadeira.
No caminho da escola, andando lentamente como se fosse guiado pelos sonhos, a menina atravessa a rua e segue seu caminho, depara-se com a praça que todos os dias passar para chegar a escola. No canto, ela pára e observa: É a árvore dos sonhos noturnos. Como nunca tinha notado aquilo antes? Não havia ninguém por ali. Ver o galho branquinho com o liquido e no final dele uma sacola parecendo um fruto. Aquela árvore parecia invisível para todos ali, ou quiça, insignificante como a própria menina.
Já debaixo da sombra, ela larga os cadernos e livros no canto. Sobe com jeito de quem conhecia todos os detalhes de escalar a árvore. Passa a mão carinhosa no galho e retira com cuidado o fruto-sacola. Desce sem que ninguém possa perceba ela, já com os pés nos chãos, sente que algo se transformou. A realidade virou um avesso de si mesmo. Decide voltar para casa, com o fruto numa a mão encostada no peito impúbere, a ansiedade e a alegria toma todo o corpo. Sente o coração acelerado. Os passos ficam largos. Os olhos abertos. O cheirinho da manhã invadindo o nariz prazerosamente. O barulho dos carros e motos entrando pelos ouvidos.
Chegando a casa, quase sem fôlego, mostra a mãe o fruto e conta tudo feliz e falando alto que até assusta a mesma. A mãe espantada pede para que leve-a a praça. Ambas saem instantaneamente. Atravessam ruas que nessas horas matinais já tinham gente se deslocando, varrendo as calçadas ou indo comprar pães. A medida que ia chegando na praça percebia que tinha mais pessoas se deslocando para lá. Enfim diante da praça, mãe e filha tem uma surpresa: várias pessoas envolta da árvore, umas conversam e apontam para o galho, a imprensa já está noticiando o fato, um padre aparece no meio de todos, pesquisadores começam a fotografar e registrar o acontecimento....Elas não podem mais tocar na árvore e no galho. A menina descobre que existe uma subjetividade infinitamente maior do que o mundo que está ao seu redor.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A árvore do sonho ( Primeira Parte )






 “Somos criaturas diurnas, mas as noites que medem o nosso lugar. E as noites só cabem bem na nossa casa de infância.” ( Mia Couto)


         A menina tornou-se comum as da cidade. Tinha a realidade sobre controle,  aquilo que observava, sabia explicar igual as meninas  da sua idade e si mesma ensinava para não ter espanto, o que se podia ver e sentir sem o menor problema ou possivelmente desestabilizar justificava. Criava mistérios que lhe levava a revelar outra realidade, mas nada que pudesse roubar lhe o chão da razão. Sem grandes questionamentos, a vida era tangida para um pouco mais adiante igual o que foi o passado.
Após as aulas matinais, punha o caderno e livros nos bruços, baixava a cabeça e caminhava lentamente voltando para casa.  No lar, tomava um banho, vestia um roupa nova e ia almoçar com os pais em silêncio que se quebrava com perguntas rotineiras e iguais as famílias. 
De tarde, a menina ai ao quintal, sentava-se na  antiga árvore  que já havia na casa antes deles chegarem. Na sombra dela tinha já arranjado espaço para por o caderno e os livros. Lia com prazer e estudava os deveres e exercício  no meio das galinhas, pintos e plantas. 
Era uma vida solitária, isolada da presença de outras meninas da  mesma idade. A mãe ficava na cozinha, lavava a louça e olhava a cena pela janela. Recordava que os professores nunca reclamavam dela, dizia que era uma menina calada. Suspirava feliz como se visse uma pintura realista.  Depois, abria a máquina de costura e fazia reparos em roupas e enxovais. Noutros dias, ela mesma consertava os pequenos vazamentos, enquanto o pai já tinha saído para trabalhar de onde só retornava no inicio da noite cansado.  Aos domingos vestia uma roupa melhor e ia para o catecismo onde aprendia as lições sagradas e a rezar. Assistia a missa, cantava os hinos e voltava para casa.
No final da tarde, a menina enfim desconstruía o circo vesperal, antes de sair do quintal e voltar para dentro de casa, de baixo da árvore, ainda fantasiava uma platéia a aplaudi-la. Decorava com sinais as pedras; para as roupas estendidas no varal mandava beijos e piscar de olhos; com pedaços de madeira e restos de qualquer sucata antiga dava um aceno e colocava os nomes nos animais e plantas como se fosse a deusa na criação pagã, contava as histórias e situações dramáticas para seus personagens sem ações próprias.
 A cena era repetitiva exaustiva até esquecerem o dia da semana e data do ano, quase nunca se alterava, a não ser quando vinham às visitas para conversar com mãe.
         A quietude da vida e da família se quebra na rebeldia de um sonho tropeçado pelo sono. A menina vê-se com a árvore que sentava nas tardes para estudar e brincar. Acordou intranqüila e foi à escola tentar ser rotineiramente. No almoço, ela resolveu quebrar o silêncio na mesa contando o sonho. Falou para a mãe e o pai que tinha sonhado com a árvore e estava perturbada com aquilo até agora. Os pais se entreolharam por um momento curto mas suficiente para perceberem que algo estava saindo do caminho. Nada responderam e nem sabiam o que dizer, pegos de surpresa, apenas continuaram a comerem.  Na mesa, inauguravam-se as preocupações entorno da filha. A menina pegou o copo e bebeu um pouco de água ritualisticamente para fazer descer a comida e fazer o silêncio retornar a boca.
Após a refeição, teve medo de ir ao quintal. Ficou de pé na porta da cozinha, olhou distante a antiga árvore e todo o cenário envolta, viu como era assustadora a imagem. Haveria monstros povoando os galhos e o centro da árvore e que agora resolveram ir moram nos sonhos noturnos. Suas brincadeiras acordaram a natureza? Mas, respirou e caminhou, foi continuar do mesmo jeito como fazia todos os dias mecanicamente. (continua...)



sábado, 6 de novembro de 2010

Memórias de uma estátua






"Estamos perecendo não por falta de Maravilhas, mas por falta de Admiração" (G. K. Chesterton)

Várias circunstâncias podem levar uma pessoa a virar estátua. Olhar meduza e ver o corpo transformar em pedra. Sair correndo de uma cidade e em arrependimento se virar e ter o corpo tomado por sal. E o pior do que esses exemplos,  seria cair no esquecimento.O esquecimento é feito uma pedra que recebemos ao nascer, ao longo da vida nos moldamos em duplo sentido: esquecer e ser esquecido. Com o passar dos anos, vão se aumento o peso e a forma ate que não vemos vai a diferença entre o que somos e a própria pedra dura que nos transformamos no leito de morte.
Assim, desde o dia que veio a ser instalada na praça, o personagem da sociedade local agora era exatamente uma estátua, algo desejado por pessoas que querem ser eternas. No entanto, as experiências vividas debaixo daquele logradouro que tinha o seu nome causava lhe uma sensação inexplicável, quiça de arrependimento.
 Esquecida e  no anonimato das horas, nem  se quer  era notada pelos que passavam. Caia no abandonado e na falta de admiração. É isso,  o cidadão comum moderno não tem o hábito de cultivar a comtenplação por obras públicas. Pensou : "Sou um trambolho, ao inves de ser recordada, se tornei um impecilho."  Persona Non Grata.
De tão esquecida era o monumento que seu passado desaparecia, se questionava: Será que  teria sido um general ou uma autoridade  política para receber tal tratamento`? Ou um santo sem tanta popularidade ? Um escritor da cidade ou um cientista que ninguém conversou ou falou ? A estátua era forte para aguentar a chuva,  tenaz com sol quente e o vento que vem nos meses de agosto e frágil para se sentir sem memória e nenhuma história pelos demais cidadãos.
A natureza em sua volta era também organizada. A árvore secular que cobria uma parte do banco tornou-se companheira do esquecimento. As outras árvores já foram em plantadas depois, hoje estão estrategicamente espalhadas. As folhas em tons verdes de fato anunciavam a mudança de estação. Com cuidado, a nosso personagem-estátua foi observando os galhos retorcidos secularmente e reparou no ninho feito por pássaros urbanos. Não serão incomodados pela altura e com certeza os garotos que se preocupam com outras coisas do que caçar ninho de pássaros. Protegidos ficaram até alçar voo. O céu azul e as poucas nuvens lhe agradavam e a temperatura que subia lhe dava a sensação de ser parte daquele cenário sem ser notado.
Começou a observar as cenas que se formavam em volta de si. Eram as únicas recordações repetitivas que poderiam guardar e esquecer, mas novamente aconteceriam sem esforços.   o servente da praça passou, levando um balde  que deixou cair gotas d’agua feito um caminho no chão e foi regando cada uma das árvores. Depois pegou a vassoura e começou a limpar um canto, saberia que todo o espaço iria ser limpo.  A estátua  era esquecida de ser polida e retirada a poeira que acamulava. Isso não mudava. Esse senhor sempre estava pelos cantos limpando com paciência de Sísifo, para no dia seguinte fazerem as mesmas coisas repetidas vezes. Noutro canto da praça, o guarda começava a lentamente andar com as mãos para trás. Coturnos limpos e farda que gerava respeito e garantia segurança aos transeuntes. Quem protegeria a estátua a noite  dos vândalos ?
As senhoras caminham animadas na lateral da praça e sentam-se no banco, se ajeitam-se e começam a conversar. Nenhuma delas se preocupou em  olhar para a estátua ou mesmo para a praça em volta, abriram as sacolas e começaram uma disputa de informações sobre as compras e os descontos ou as vantagens do consumo bestial. Pareciam serem felizes. 
Uma era senhora usava um  vestido com decote na altura dos seios que já se percebia o suor escorrer entre eles. Os óculos eram de uma armação antiga e nos dedos vários aneis. A outra tinha um cabelo tingindo de loiro que já mostrava as raízes pretas. Era de porte mediano e tinha sapatos baixos. Ambas comentavam cochichando assuntos  e ao mesmo tempo observando quem passavam. Daí, caiam na risada. Aquela cena se imortalizou na visão da estátua.
Quando a noite veio e já era alta madrugada, três rapazes entram sorrateiramente pela praça. Escalam com habilidade a estátua até alcançarem a cabeça. Tiram dos bolsos das calças  um spray de tinta. As mãos ageis e começam a riscar  a cabeça e depois o corpo. O barulho das latas é o único que reside naquele espaço. Depois do serviço, descem lentamente e saem felizes conversando até desaparecem depois da luz no último poste.
Há a ausência do cair as lágrimas no rosto estátua,  não chora e nem ri. Elas tem desaparecidas das praças, cairam no esquecimento da população e no desuso das obras públicas. Seus criadores tornaram-se profissionais raros e sem sentidos. As pessoas só tem valor quando estão vivas, depois que morrem nem se quer são lembradas como uma peça de praça. Infeliz daquele que vier a ser uma estátua.