sábado, 6 de novembro de 2010

Memórias de uma estátua






"Estamos perecendo não por falta de Maravilhas, mas por falta de Admiração" (G. K. Chesterton)

Várias circunstâncias podem levar uma pessoa a virar estátua. Olhar meduza e ver o corpo transformar em pedra. Sair correndo de uma cidade e em arrependimento se virar e ter o corpo tomado por sal. E o pior do que esses exemplos,  seria cair no esquecimento.O esquecimento é feito uma pedra que recebemos ao nascer, ao longo da vida nos moldamos em duplo sentido: esquecer e ser esquecido. Com o passar dos anos, vão se aumento o peso e a forma ate que não vemos vai a diferença entre o que somos e a própria pedra dura que nos transformamos no leito de morte.
Assim, desde o dia que veio a ser instalada na praça, o personagem da sociedade local agora era exatamente uma estátua, algo desejado por pessoas que querem ser eternas. No entanto, as experiências vividas debaixo daquele logradouro que tinha o seu nome causava lhe uma sensação inexplicável, quiça de arrependimento.
 Esquecida e  no anonimato das horas, nem  se quer  era notada pelos que passavam. Caia no abandonado e na falta de admiração. É isso,  o cidadão comum moderno não tem o hábito de cultivar a comtenplação por obras públicas. Pensou : "Sou um trambolho, ao inves de ser recordada, se tornei um impecilho."  Persona Non Grata.
De tão esquecida era o monumento que seu passado desaparecia, se questionava: Será que  teria sido um general ou uma autoridade  política para receber tal tratamento`? Ou um santo sem tanta popularidade ? Um escritor da cidade ou um cientista que ninguém conversou ou falou ? A estátua era forte para aguentar a chuva,  tenaz com sol quente e o vento que vem nos meses de agosto e frágil para se sentir sem memória e nenhuma história pelos demais cidadãos.
A natureza em sua volta era também organizada. A árvore secular que cobria uma parte do banco tornou-se companheira do esquecimento. As outras árvores já foram em plantadas depois, hoje estão estrategicamente espalhadas. As folhas em tons verdes de fato anunciavam a mudança de estação. Com cuidado, a nosso personagem-estátua foi observando os galhos retorcidos secularmente e reparou no ninho feito por pássaros urbanos. Não serão incomodados pela altura e com certeza os garotos que se preocupam com outras coisas do que caçar ninho de pássaros. Protegidos ficaram até alçar voo. O céu azul e as poucas nuvens lhe agradavam e a temperatura que subia lhe dava a sensação de ser parte daquele cenário sem ser notado.
Começou a observar as cenas que se formavam em volta de si. Eram as únicas recordações repetitivas que poderiam guardar e esquecer, mas novamente aconteceriam sem esforços.   o servente da praça passou, levando um balde  que deixou cair gotas d’agua feito um caminho no chão e foi regando cada uma das árvores. Depois pegou a vassoura e começou a limpar um canto, saberia que todo o espaço iria ser limpo.  A estátua  era esquecida de ser polida e retirada a poeira que acamulava. Isso não mudava. Esse senhor sempre estava pelos cantos limpando com paciência de Sísifo, para no dia seguinte fazerem as mesmas coisas repetidas vezes. Noutro canto da praça, o guarda começava a lentamente andar com as mãos para trás. Coturnos limpos e farda que gerava respeito e garantia segurança aos transeuntes. Quem protegeria a estátua a noite  dos vândalos ?
As senhoras caminham animadas na lateral da praça e sentam-se no banco, se ajeitam-se e começam a conversar. Nenhuma delas se preocupou em  olhar para a estátua ou mesmo para a praça em volta, abriram as sacolas e começaram uma disputa de informações sobre as compras e os descontos ou as vantagens do consumo bestial. Pareciam serem felizes. 
Uma era senhora usava um  vestido com decote na altura dos seios que já se percebia o suor escorrer entre eles. Os óculos eram de uma armação antiga e nos dedos vários aneis. A outra tinha um cabelo tingindo de loiro que já mostrava as raízes pretas. Era de porte mediano e tinha sapatos baixos. Ambas comentavam cochichando assuntos  e ao mesmo tempo observando quem passavam. Daí, caiam na risada. Aquela cena se imortalizou na visão da estátua.
Quando a noite veio e já era alta madrugada, três rapazes entram sorrateiramente pela praça. Escalam com habilidade a estátua até alcançarem a cabeça. Tiram dos bolsos das calças  um spray de tinta. As mãos ageis e começam a riscar  a cabeça e depois o corpo. O barulho das latas é o único que reside naquele espaço. Depois do serviço, descem lentamente e saem felizes conversando até desaparecem depois da luz no último poste.
Há a ausência do cair as lágrimas no rosto estátua,  não chora e nem ri. Elas tem desaparecidas das praças, cairam no esquecimento da população e no desuso das obras públicas. Seus criadores tornaram-se profissionais raros e sem sentidos. As pessoas só tem valor quando estão vivas, depois que morrem nem se quer são lembradas como uma peça de praça. Infeliz daquele que vier a ser uma estátua.

Um comentário:

Uedson Angelo. disse...

Que discurso!Gostei.Voce precisa reunir e publicar.