sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O prazer do urso





" Você me conhece? " (  máscarados no carnaval )




O ano nem bem começou e a temperatura aumentava e aumentava.  Meninos, quase rapazes, formam o bloco para o carnaval. Qualquer bairro que se preze tem um, dois ou mais blocos de ursos. Magrelos sem camisas, calções surrados e tocando latas velhas, eles se transformam em  batuqueiros. Não há uma única letra de música onde se possa cantar, apenas o toque : tum, tum, tum...O som ecoa pelas cantos da rua e no coração dos que as ouvem  anunciando o que está vindo...Todo o dia  no sol árido, tendo a frente um rapazola urso e lá se vão eles. Para alguns será o último ano da folia, no próximo ano quem sabe estarão "grandes" para isso.
Não existe que esteja disposto aos excessos e descobertas num carnaval, mesmo que seja um adolescente mascarado de urso.
As crianças gostam, saem de casa e acompanham a trupe. Os adultos também sente inveja e  comentam a brincadeira. Qualquer comércio de esquina é visitado em busca de moedas: padarias, oficinas, bares, lojas e mercearias... dividem as somas do arrecadado  ao final do dia, ali mesmo. O urso recebe o pouco dinheiro e guarda num saco que fica amarrado na cintura.
De vez enquando, alguém do grupo aponta para a pessoa que passa e canta: ei, você ai !! Me dá um dinheiro aí!!! Os moradores mau humorados fecham as portas, param e cantam: Daqui não saio, daqui ninguém me tira...Então, soltam cachorro para cima do urso. Todos correm em disparada para mais adiante voltarem a se reunir e a bater lata. As mulheres falam que não dão dinheiro para moleques desocupados, ajudam à igreja. Os senhores comentam que não iriam sustentar folia de vagabundos. Os mais afoitos falam alto: " Há uma  jaula!!!" Os desaforos não os desanimam.
Baleado é um desses, meio menino - rapaz, ficou com a função de ir vestido de urso. Alto e magro como um pássaro do sertão, recebeu o apelido pelo jeito desengonçado de andar com as pernas. No começo ao se reunirem disseram que ele ia ser o urso.  Talvez por saberem que no próximo ano não terão ele. Rejeitou a proposta... os demais insistiram em dizer que era porque ele não leva jeito em bater na lata e nem tinha ritmo. Baleado tentou se encontrar  no  tumtumtum  desencontrado do ritmo e se foi.
Sempre a frente, como chefe e fantasiado até se olhava com  atenção de quem observa a cena. Outro dia, passando na casa onde moravam uma idosa que vendia picolés, doces e dindins. A  neta adolescente é quem sai  da casa e em seguinda a avó. Todos sabem que a menina tem um tabuleiro  e ao meio-dia vai oferecer cocadas pelas ruas. Resolveram pedir umas moedinhas para  o urso. Os meninos estavam banhados de suor, mas a menina nem reparou  no bloco, não via mais ninguém, somente o urso com a respiração ofegante.  Ela já o tinha notado antes neles, mas por ai.: uma vez na padaria ou na construção. Ficaram um de frente para o outro.
O urso baleado fez um pedido: queria água para beber. A neta lhe trouxe  uma jarra gelada e servida na bandeja. Baleado levantou um pouco a máscara deixando a boca a amostra pára  ebebe a água em goles homeopático. Vai levantando o copo e o queixo somente amostrar o pomo de Adão. Sobra um pouco no copo e joga no chão.
A vendedora de cocada  vê os lábios e os dentes verdadeiro. Pergunta: Quem é você, o urso ? Ninguém ouviu. O barulho calou a  voz que saia a oferecer o quitute. Somente baleado parecia ter ouvido e quando ia responder, alguns meninos com latas feito tambores disseram, vamos embora rapaz...
A moça das cocadas com uma jarra de água e copo na mão transportou ele pela rua afora. Um dos tocadores de tambor  inisistindo: Vamos!!! Ainda teve tempo de se virar para trás e rever no portão da casa a vovó e a adolescente se distanciando. Outro desejo crescíria além do dinheiro, além do carnaval...
Assim, à procura de um rosto  que possam se completar com  os lábios, lhe veio a busca e o prazer de um  beijo. Chegou o carnaval e sairam ambos em busca um do outro, mas não encontrou., nem  o urso com os amigos desapareceram das ruas ou a adolescente vendedora de cocada de coco. Feito segredo para ambos e  ao mesmo tempo um desafio, baleado e moça se foram pelas festas carnavalescas e matinê e...nada. Cada  um cumprindo o destino de se desencontrar nas horas sem fins. 
Na quarta-feira, antes de ir para a missa das cinzas com a avó, buscou com um olhar silencioso aqueles lábios nos rapazes da esquina.O destino tinha  aberto um abismo entre o urso e a menina. Virão outras festas: páscoa, junina e natal... inda não será dessa vez que o principio do amor torne-os amantes de verdade, que eles não se esqueceram nem com o tempo o que permanceu na memória com  um simples gole de água e a história dos seus carnavais.

3 comentários:

elizabeth gurgel disse...

professor adorei esse seu texto falou ate de baliado e da minha querida cidade

Uedson Angelo. disse...

Li rápido e num gole.As palavras escorriam lépidamente em meus lábios.Sinceramente: Muito original, poético, e sem dúvida quem nunca perdeu de vista um grande amor...? Ah se pudesse tranformar em literatura, música ou filme,qualquer coisa que gravasse para sempre esses momentos lindos que o destino de vez em quando nos presentea...um amor realmente inesquecivel que durou apenas uma missa de uma Quarta-Feira de cinzas...ai ai..

Camaleoa Naja disse...

A sua cara esse post!!risos...