terça-feira, 9 de novembro de 2010

A árvore do sonho ( Segunda Parte )







 Os sonhos que se repetem tem lá as razões para  isso.  Se os fazem, com certeza é para se tornarem  puros e seguir um ciclo. Esse processo foi suficiente para acordá-la, não só como acordamos quando temos pesadelos, mas como tomamos a realidade de outra forma. De noite, a menina sonhou novamente com a árvore. Num galho, viu uma sacola parecida com um fruto. O vento movia como se fosse um convite.  Suando assustada  não chamou pela mãe. Resolve guarda o mistério e persegui-lo de dia. Aquilo lhe faz mergulhar num profundo silêncio com os poucos amigos e andar pela rua procurando a árvore amada. O pai e mãe contaram para os parentes o que estava ocorrendo com a filha, a brusca mudança do jeito dela ser, várias sugestões aparecem e não tardou as vozes das superstições para espantar agouro do sonho. Seria as danações do bicho de chifres que devoravam o coração daquela menina que se preparava para ser moça ou sinal divino, na escritura: da rama nasce a flor e da flor a mulher. Predestinação da menina para ser santa.
A menina já não quer ir ao quintal embora sabendo que a árvore dos seus sonhos estaria em qualquer outro lugar. Prefere  a distante dos bichos e as  tardes encantadas se tornaram ressentimento, teve medo ao ver a escuridão da noite chegar, sabia que deveria dormir. Pensou naquele universo particular que viria mora dentro dela e instalar no corpo desprazeres. Inpagável veio o sono. E sem evitar, a continuação do indesejável. Dormiu e sonhou com a árvore e o galho revestido de branco neve, desta vez do galho escorre um liquido.  
Sufocada, ela acordou e deitada buscou se  tranquilizar. Lembrou dos ensinamentos religiosos e rezou ao anjo da guarda para que a luz do dia chegasse depressa. No café a mãe pergunta: Sonho de novo com a árvore? Ela com o olhar triste e silenciosa balança a cabeça confirmando. A mãe diz: Hoje quando voltar da escola, você vai ao médico e a rezadeira.
No caminho da escola, andando lentamente como se fosse guiado pelos sonhos, a menina atravessa a rua e segue seu caminho, depara-se com a praça que todos os dias passar para chegar a escola. No canto, ela pára e observa: É a árvore dos sonhos noturnos. Como nunca tinha notado aquilo antes? Não havia ninguém por ali. Ver o galho branquinho com o liquido e no final dele uma sacola parecendo um fruto. Aquela árvore parecia invisível para todos ali, ou quiça, insignificante como a própria menina.
Já debaixo da sombra, ela larga os cadernos e livros no canto. Sobe com jeito de quem conhecia todos os detalhes de escalar a árvore. Passa a mão carinhosa no galho e retira com cuidado o fruto-sacola. Desce sem que ninguém possa perceba ela, já com os pés nos chãos, sente que algo se transformou. A realidade virou um avesso de si mesmo. Decide voltar para casa, com o fruto numa a mão encostada no peito impúbere, a ansiedade e a alegria toma todo o corpo. Sente o coração acelerado. Os passos ficam largos. Os olhos abertos. O cheirinho da manhã invadindo o nariz prazerosamente. O barulho dos carros e motos entrando pelos ouvidos.
Chegando a casa, quase sem fôlego, mostra a mãe o fruto e conta tudo feliz e falando alto que até assusta a mesma. A mãe espantada pede para que leve-a a praça. Ambas saem instantaneamente. Atravessam ruas que nessas horas matinais já tinham gente se deslocando, varrendo as calçadas ou indo comprar pães. A medida que ia chegando na praça percebia que tinha mais pessoas se deslocando para lá. Enfim diante da praça, mãe e filha tem uma surpresa: várias pessoas envolta da árvore, umas conversam e apontam para o galho, a imprensa já está noticiando o fato, um padre aparece no meio de todos, pesquisadores começam a fotografar e registrar o acontecimento....Elas não podem mais tocar na árvore e no galho. A menina descobre que existe uma subjetividade infinitamente maior do que o mundo que está ao seu redor.

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