segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Coisa de duas peles ( parte final )


"Como eu queria a madrugada, toda a noite aos livros lia para esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais" ( Edgar Alan Poe) 



O médico e a moça tornaram-se apaixonados um pelo outro e amantes dos livros que cada um trazia. Agora além dos livros, eram trocadas cartas com juras e promessas. As vezes, um ou outros pedia desculpas por algo.  Esperavam por um tempo mais seguro para o médico fazer uma visita a mãe e pedir a moça em noivado e depois casamento.  Casar e viverem numa cidade mais calma, quiça morar numa fazenda afastada da cidade. Viajarem para lugares nas férias, terem filhos e viver um ao lado do outro.
A moça resolveu contar para a mãe a paixão avassaladora. Com os olhos cheio de brilho, dizia como estava curada da estranha doença e que agora amava um homem. A mãe cética e racionalista por demais, ouvia tudo sem cortar em nenhum momento a moça. Ao final, disse que iria com ela conhecer o tal médico. 
No dia do encontro, o médico foi avisado de surpresa da chegada da amada e da mãe. Não teve tempo em arrumar nada e ficou até um pouco nervoso com a presença da ambas. Ao entram no consultório, o médico se levantou da cadeira e estirou a mão para a mãe da moça amada. Séria, a mãe apertou ligeiro e logo se sentaram todos. Fez-se um silêncio dentro da sala que dava para ouvir o barulho no corredor da clínica. A quebra do silêncio veio com a moça falando sobre a mãe. O médico continuou dizendo  o que tinha se passado naqueles  meses todos, destacando a relação de ambos pelo gosto de ler. A mãe trocava o olhar com o médico para em seguida olhar a filha. Dentro de si, ela não aceitava aquela união. Sua única filha se casar com um negro, embora fosse médico. Jamais permitira que a família tivesse descendentes morenos e quiça negros. Manteria a linhagem dessa gente diferenciada que há aos montes no Brasil. Astutamente, conversou uma ou outra coisa para amenizar o clima.
Saindo do consultório, foi logo falando para a filha em tom de cólera que não iria permitir mais nenhuma aproximação e nem se quer o casamento deles. A moça se sentiu refém da mãe e de todo o preconceito de pele. o médico buscou encontrar a amada, mas a mãe foi quem o recebeu no portão. Friamente disse que não abençoava aquilo, que buscaria a justiça caso o médico insistisse em voltar a casa dela. O médico pediu uma explicação ao que a mãe com um sinal mostrou a pele dele. 
Seus olhos entraram em desespero e compreenderam que para o amor se realizar teria que desconstruir uma preconceito social gigantesco e dali em diante saberia que não veria a amada. Os contatos foram todos cortados lentamente como também devagar foram reaparecendo as manchas em seu rosto. A moça foi definhando sem amolecer o coração da mãe. O véu voltou ao seu rosto e o silêncio a seus lábios. Vestiu-se de negro e esperou a morte chegar calma enquanto dormia. Quando o médico soube que sua amada tinha falecido, fez seu último gesto: pegou todos os livros que possuia e enviou para serem substituidos no lugar das flores ornamentais.

Um comentário:

WesleyaniaR. disse...

AMEIIII , emocionante. Uma lição de vida, onde so mostra que o preconceito é um assunto importante e que deve ser combatido. Se a mãe tivesse abençoado o amor dos dois ela estaria viva , sem a doença e principalmente feliz ! Vamos dizer não ao preconceito, busquemos a humildade e não importa cor , raça , religião , vamos é ser felizes !