Ao amigo Josafá.
Sempre há discussões acaloradas entre os sábios de que a comida une as pessoas, já a fome de muitos separa e nos desumaniza. Não precisa ser gênio para concordar que realmente que a alimentação tem tal poder de reunir e trazer a felicidade. Entretanto, é preciso entender detalhes que vão de um banquete requintado ao simples petisco com os amigos nos restaurantes e botecos. No geral, os restaurantes, cada vez mais temáticos, costumam
atrair fregueses de poder aquisitivo para desfrutar do ambiente e do que
lhe é servido com nobreza. Há opções para os diversos paladares: restaurantes chinês, italiano, árabe até o baiano, todos evidentemente são disputados pelas pessoas para terem uma
mesa e conversarem sobre confidências ou projetos.
Particularmente fico pensando sobre botecos ( botequins)
que por mais familiar que sejam, pertencem a realidade social dos segmentos
populares. As impressões que transcrevo aqui não se compõem em uma geografia dos mesmos. Mas, uma tentativa de rever esse cenário de figuras humanas e as teias de relações que se compõem. Dos churrasquinhos aos cachorros-quentes passando pelos bares rudes que
existem em cada esquina movimentada de qualquer cidade, lá estão eles. Comida ou bebida parece ser quase igual em
todos. Sim, quase. Há diferenças de opções de um lugar a outro como de frequentadores. Os botecos podem ser parada e local de reunião de pessoas. O detalhe fica na arrumação, as mesinhas estrategicamente com temperos, portas-guardanapo,
paliteiros. Dispostas em cima da calçada e as cadeiras cuidadosamente colocadas em cada e
acrescenta-se música ou uma televisão para puxar assunto. Geralmente há uma placa anunciando o nome do
estabelecimento.
As pessoas que se reúnem em volta de um boteco
é um capitulo a parte, quiça o mais importante de tudo isso. Constituem de
forma mais ampla, possível e democrática as categorias sociais. É
gente, gente, gente, gente a conversar e a rir... Não há outro lugar para
desempenhar a livre opinião de pensamento do que um boteco, melhor dizendo sem
ser moralista, os famosos “ pé-sujo” ou “ morre em pé” representam uma tribuna de debate da vida humana. Lá se conversa um pouquinho de
tudo e se expressam opiniões diversas: Futebol, novela, política,
religião...Não é somente a ralé que
vai ao botequim. O professor vai, o gari também; do bêbado pedindo o trago ao policial a paisana.... Nas conversas se
chegam a uma conclusão ou se revela ao ouvido um problema e de vez enquando se canta em
coro. A conta do que se comeu e bebeu é compartilhada. Tudo isso são situações que ocorrem num botequim.
Numa sexta-feira ao se transitar pela rua em direção ao supermercado ou de volta para casa, depois de um semana de trabalho, vemos esse
cenário: motos, carros, bicicletas estacionadas e as pessoas em volta da mesa com seus pratos e iguarias, tomando “um trago”, o cheiro espalhado da carne, dos caldos e dos outros aperitivos a nos convidar a fazer parte do banquete. Conversas
animadas mostram o lado da vida saboreado com um
copo de cerveja. Desaparecendo as diferenças já existentes no cotidiano da
gente.
Coleciono botecos em imagens que o
pintor Monet ficaria com inveja. Guardo nomes, fregueses e proprietários como um aficionado. Como
dizia no inicio, não precisa ser um sábio para saber disso. Precisa-se ter uma percepção
diferente da realidade extraordinário.