sábado, 12 de novembro de 2011

Prova de amor

 O Jardim chamava a atenção de qualquer um que cruzasse pelo portão, cheio de cuidados da viúva rica que morava no casarão colonial no centro da cidade. No meio do jardim havia uma rosa única nas redondezas. Churrasquinho   rapazinho que tinha rapidez nas pernas e valentia no coração no quando o assunto era futebol sabia da rosa mas não lhe dava importância, também ouvia coisas sobre a viúva e o jardim, do zelo a rosa  indiana... E havia no coração dele o crescente  desejo  de desconhecer os riscos para ser amado e ser correspondido.  O desafio posto era passar por todos os obstáculos até chegar a rosa e presentear a amada. Pensou em pedir, mas viu que nada disso adiantaria. Talvez se juntasse dinheiro e  comprasse, poderia ser  fácil. Desistiu da idéia por saber que se tratava de rosa rara e única  vinda da Ásia.  A  solução era roubá-la e transformar o furto em ato heroico. 
Condição imposta pela moça, filha de comerciante que há tempos sonhava namorar não mudava. Mimada, a moça sempre teve  o que queria ou desejasse pelos pais. Se tornou invejosa ao ver a dona do casarão. Sucederam-se dias  e Churrasquinho começou a averiguar o jardim, a altura do muro e o espaço  após as aulas matinais. O portão trancado, dois cachorros soltos  a latir e ainda  o jardineiro cuidando das plantas e flores olhava-o de longe. A ansiedade de tê-la  nas mãos não diminuía, só aumentava. As batidas do coração tornaram-se furiosas em saber que poderia ser capaz de roubar a rosa como prova de amor. O rapaz era honesto e queria viver, mas o amor exige mais do que honestidade quando se está apaixonado.
Certo dia, o destino conspirou para o crime.  Por acaso já se passava do meio-dia e as condições facilitaram o plano. Certos furtos acontecem a luz do dia. O sol colocava calor na aventura, respirou e agiu antes de se arrepender. Parecia ouvir o apito do jogo da vida. O portão estava semiaberto, os cachorros presos  dormiam e o jardineiro, ausente. Sem ninguém percebeu o rapaz que silenciosamente destravou o portão e entrando devagar no jardim proibido. Avançou entre as alamedas verdes até cruzar as centrais. Estátuas de gregas eram as testemunhas que não lhe causavam medo e sim coragem.  Avançou até a roseira  e tocou o ramo com espinhos para retirar a rosa branca. O furto machucou a mão. Nesse momento a viúva vendo da janela, gritou: ladrão! Ladrão! Acudam... Os cachorros acordaram do cochilo e latiram ferozes.  De dentro do casarão ouviu se o barulho e já estava abrindo a imensa porta.  As pernas tremeram e ele tomou a consciência daquilo e correu em direção ao portão. O fôlego subiu até a garganta. Rápido num intervalo de tempo, saiu do jardim deixando o portão escancarado. Pensou que  ninguém precisaria saber da aventura, uma ato  heroico e marginal.
Ao sair do casarão, com as forças redobradas adiantou os passos e conseguiu chegar numa praça do chafariz. sentou tranquilo no banco e ainda tonto do que houvera, olhou o furto na mão com se não fosse mais um inocente e pensou que outros furtos amorosos viriam ao longo da vida: talvez um beijo roubado...Se recompôs e caminhou a passos firmes de homem para a casa da amada. Entregaria a rosa e teria na ocasião o primeiro beijo. 
Quando chegou à casa da amada, chamou ela. Ninguém respondia. Teria sido em vão aquilo tudo, os dias de planejamento em roubar à rosa. Lembrou-se do perigo ocorrido a poucos instantes e a mão ferida com os espinhos. A porta se abriu devagar, ouviu conversas mansas e barulho de talheres e o rosto da moça veio no meio da porta depois. Com a rosa escondida nas costas, Churrasquinho saudou a moça e mostrou a rosa exótica. A moça sem querer acreditar naquilo, ainda sorriu e pegou a rosa. Depois de um momento em silêncio, ela falou que não queria a rosa. Disse que havia pequenos pontos de sangue nas pétalas. A rosa não era pura com gotas de sangue, não valeria. Sem mais agradeceu, devolveu a rosa e fechou a porta.
Churrasquinho conteve a euforia e sem chance de contar a aventura,  caminhou para a praça do chafariz. Sentado num banco no meio da praça, a mão pulsava pelo sangue e os espinhos. Começou a retira-los. Uma moça se aproximou do chafariz e  encher um vaso de vidro com água. Olhou demoradamente e perguntou se ele não queria lavar a mão. E enquanto lavava a mão, começou a ficar comovida com o que estava vivendo. E aqui começava uma nova prova de amor completamente ignorada pelos dois.

3 comentários:

Cleciana disse...

Muito bonita a mensagem repassada encantadoraa. *-*
- Nessas lindas reflexãos que vemos realmente quem merece certas atitudes nossas. & quem realmente merece um Amor.

O banquete de Edson disse...

"As rosas não falam simplesmente elas exalam..."

Luciana disse...

Costanildo, qual é o numero do seu celular? Luciana Santos