segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O presente


 Ainda tonto pelo percurso sinuoso que resultou em se perder  no centro da cidade,  confuso com o burburinho dos transeuntes e vendedores ambulantes nas calçadas e carros e motos lhe ameaçando nas ruas,  ele chegou a onde queria. Igual ao pecador que vai arrependido a igreja. Ludo adentrou na loja com a respiração ofegante, a testa frasida escorrendo um discreto suor. Olha os brinquedos sofisticados, se perde novamente como estivesse num labirinto das opções. A naúsea  era por ter chegado e trocado de ares e ambientes. Os coloridos das placas de descontos e os preços especiais  que  lhes saltam a vista revelam a sensação de algo estava errado na vidinha mediocre de classe emergente.
Suspira sem satisfação, mas como a tentativa de opter calma. Quase um novo obressalto lhe vem  quando uma criança solta a frente e corre disparada. Logo depois, a mãe corpulenta passa aos berros: Alice, Alice...Estamos atrasadas. Sente as batidas do coração e mira os  bonecos  e bonecas androginos de todos os tamanhos, dentro das caixas que  serão embrulhados em papéis de presentes que ao serem rasgados pelas crianças  que não terão a menor cerimônia em admirá-los. 
Pais e mães estão distribuidos, observando  atentamente as caixas de brinquedos e lendo  os rótulos. Uma criança chora e esperneia por motivo que a genitora não  quer atendê-lo.  Seu brando amplia e para conclamar outras crianças a chorarem. A insatisfação com a indiferença lhe causa desconforto. A música  que toca, cobre superficialmente os comentários entre os adultos que dialogam mais pelo preço do  que  pelos produtos. A antiga classe sempre penchinchando. A voz parece divina e anuncia as vantagens de possuirem o cartão exlusivo da loja. Vestidos iguais as crianças, vendedores acompanham clientes que lhes abrem um sorriso em meio a comentários explicativos de como usá-los.
A moça feito menina de tranças esta no final de prateleira quase impercepitível, olha  para Ludo e não se aproxima. Quando  este olha novamente e percebe que é visto por mais outros.  Ao encará-la, poderia virar uma estátua ou um jogo de pega ladrão.  Pensa sozinho: preciso me apressar.  
A indefinição aumenta na memória do mesmo que só reverbera o recado de não voltar para casa sem o presente. A sentença só amplia como um altofalante ao ouvido. A aflição só é não saber escolher presentes. Sem cerimônias, pega  um brinquedo qualquer e vai a fila do caixa. Caso não gostassem, diria que nunca foi bom consumidor, álias era uma tortura qualquer tentativa de ser a essência da circulação de mercadorias e dinheiro.
Sai da loja com o pacote atrapalhado e vai ao ponto de onibus. Lembra-se que a festa já deveria está começando com o início da noite. A casa com certeza já cheia de risos de adultos, os enfeites que a mulher decorou e as crianças correndo pelo quintal. Lembrou da música alta e  das bandejas de doces e salgados passando entre os convidados que timidos e famintos tiram um só. As lancheiras numa mesa grande, sendo  transpassadas pelos olhos dos participantes que comentam alguns detalhes. Senta-se agarrado com o presente no colo. Vira o rosto para o lado da janela. Mentalmente diz como um mantra: acelera motorista, acelera... Desce correndo e quase deixa cair o presente. Se aproxima da casa e abre a porta com cuidado. Dai ouve o grito onissonoro: Feliz Aniversário !

Um comentário:

Anônimo disse...

eeeeeeeeeei...

vc esqueceu - ou fez de propósito - de contar o escolhido..

fikei curiosa!