sábado, 19 de novembro de 2016

A Ceia de Natal

Anos atrás foi convidado a passar a noite de natal com a família de um amigo. Não conhecia ninguém na casa e passei a noite  independente dos demais. Fiquei observando as pessoas por ali do começo ao fim da ceia. Cheguei cedo e aos poucos foram vindo todos os familiares. No centro da sala, havia uma árvore iluminada e presentes em baixo, ao lado um presépio. Todos pareciam animados falando alto e rindo. As crianças corriam de um lugar para outro. Com o passar das horas, vi quem mais era importunado por todos. Ora com um petisco, ora para encher sua taça ou por saber se faltava algumas coisa. Trata-se do mais rico comerciante do bairro. Antes da ceia, o dono da casa, reuniu todos e pediu um minuto de silêncio. Falou algumas palavras e em seguida começou um Pai-Nosso e depois uma Ave-Maria. Todos rezaram com ele. A distribuição dos presentes criou grande expectativa entre as crianças. Num minuto, os papeis de presentes estavam no chão e os brinquedos a mostra.
A ceia tornou-se outro momento memorável,  Sentados pelos cantos da casa, os grupos de pessoas conversaram com os pratos nas mãos. Foi ai que percebi a presença de um homem perdido no meio dos convidados. Sentado na cadeira, ele alisava o braço da cadeira. Era alto, forte e de barba. Quando percebi a presença dele, observei que ninguém lhe ofereceu nada ou parava para conversar com ele. Isolado igual a mim naquela família durante a ceia de Natal. Os convidados já demonstravam que estava animados pelas taças de vinho. Se mostravam gentis entre si. Cantavam e dançavam.O homem sentado no sofá, coçou a manga da camisa, mostrando uma cicatriz de corte. A partir do gesto notei que conhecia ele, mas não lembrava. Puxei na memoria aquela marca. Olhei para ele fixamente e foi com o passar do tempo que veio a clareza: tratava-se de um inimigo de infância que tive e sofri muito nas mãos dele. Nenhum dos presentes saberia que visões terríveis tive ali e me povoaram a memória, das humilhações e vergonhas que vivi com aquele homem quando era uma criança. O homem de cicatriz era o papai Noel da festa.

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